‘Caminho do Amor’ por Paramahamsa Prajnanananda
AMOR POR CARIDADE
O sábio Narada, em seu Aforismo sobre o Amor Divino, nos ensina,
tat sukhe sukhitvam
“O amor encontra satisfação na felicidade da pessoa amada.”
Uma história sobre Krishna nos conta que certa vez ele sofria de uma dor de cabeça muito intensa. Foram tentados diversos medicamentos, e nada parecia funcionar. Ele sentia uma dor insuportável. Prometendo fazer qualquer coisa, as pessoas ao seu redor perguntaram o que poderia ser feito para solucionar o problema. Krishna sugeriu que se a poeira dos pés de seus devotos fosse aplicada sobre a sua cabeça, isso traria o alívio imediato. Havia apenas um grande obstáculo, era um sacrilégio aplicar a poeira dos pés dos devotos sobre a cabeça de Krishna, então quem realizasse tal ação iria para o inferno. Ao ouvir isso, as pessoas silenciaram e retiraram-se, ninguém queria sofrer no inferno. A dor de cabeça de Krishna ficou mais intensa ainda e a notícia chegou a Brindavan. Os Gopis, cujo amor intenso por Krishna era bem conhecido, decidiram unanimemente, “nós derramaremos a poeira de nossos pés sobre a cabeça de Krishna. Se isso fizer Krishna sentir-se melhor, iremos para o inferno.” A dor de cabeça de Krishna desapareceu imediatamente, e os Gopis encontraram satisfação em seu amor.
Narada em seus Bhakti Sutras nos diz,
tat sukhe sukhitvam, tat vismarane parama vyākulatā' iti
“Seja feliz com a Sua alegria e inquieto e arrependido caso esqueça-se disso.”
Em algum momento Deus está infeliz? O que podemos fazer para alegrar a Deus? Quando o filho está doente, pode a mãe estar feliz? A felicidade da mãe depende da alegria e do bem-estar do seu filho. Deus é muito mais do que uma mãe terrena. Deus se alegrará conosco se pudermos enxugar as lágrimas de algum de seus filhos, e fazê-los sorrir novamente. Uma mãe sacrifica-se muito por seus filhos. A mãe come apenas depois que o seu filho tiver se alimentado, e descansa somente após a sua criança ter ido dormir.
Quando criança, certa vez, eu vi o sofrimento de um macaco na minha vila, quando o seu filhote morreu. A mãe não abandonou o corpo do pequeno macaco morto, ela sentou-se lá por vários dias sem comer. Se um macaco pode ter tamanho amor nós, como seres humanos, podemos fazer muito mais. O nosso amor por Deus manifesta-se a si mesmo em amor intenso por toda a Sua criação, e nós devemos estar prontos para sacrificar a nós mesmos, caso seja necessário.
AMOR INCONDICIONAL
Narada descreve o amor como não condicionado às expectativas capitalistas. O amor não pode ser negociado ou possuído.
Se eu disser que amo a Índia no inverno por ser agradável e fresca, mas não no verão por ser muito quente, o meu amor dependeria de uma causa. Na falta da causa, o amor também faltaria. Se eu amo uma rosa apenas pela sua beleza, então deixarei de amá-la quando as pétalas caírem. As abelhas visitam as flores quando são jovens e cheias de mel, mas a flor fica sozinha quando começa a murchar. Quando o amor é sentido por uma razão em particular, ele não resiste ao teste do tempo. Da mesma forma, o amigo de hoje pode tornar-se o oponente amanhã. O amor verdadeiro é incondicional e não deve possuir expectativas.
Se você quer banhar-se na água, mergulhe inteiramente e aproveite o banho. Não deixe que existam condições para amar a Deus. Onde você estiver, seja qual for a situação, cheia de alegria ou de dor, não se esqueça de Deus. Ame-O em todas as situações, em cada respiração.
Existe uma história sobre um rei que possuía duas filhas que ele amava muito. Certo dia, o rei perguntou a elas o quanto elas o amavam. A primeira filha respondeu, “Eu o amo tanto quanto amo o mel.” A segunda filha respondeu simplesmente “Eu o amo tanto quanto amo o sal.” O rei não ficou tão feliz com a segunda resposta. Ele passou a visitar menos a filha. Certo dia ela o convidou para almoçar e serviu a ele uma comida que parecia estar deliciosa. Mas tudo estava muito doce. Então ela trouxe outro prato, desta vez com sal. O rei então entendeu por completo o amor que a sua filha sentia por ele. O amor precisa de uma compreensão abrangente.
O AMOR É TOLERANTE
Shri Charitanya, enquanto ensinava o Shirkshastakam, nos dá a seguinte descrição.
“Se você ama a Deus, seja mais tolerante que a árvore. Seja mais humilde que a grama. Honre a tudo, mesmo a coisa mais insignificante, e cante o nome do Senhor.”
O que significa ser tolerante como as árvores? Quando as crianças jogam uma pedra para fazer uma manga cair, a árvore dá a fruta em retorno. A mangueira é como uma mãe, ela fornece alimento, sombra, lenha e abrigo.
Nós somos tão intolerantes que reagimos às coisas mais insignificantes. Quando somos incapazes de expressar a nossa emoção, reagimos interiormente. Pessoas fracas reagem, pessoas fortes agem. Enquanto pessoas fracas são reativas, pessoas fortes são ativas. Para aceitar todas as dificuldades que a vida guardou para nós, precisamos desenvolver a tolerância. Para aumentar o nosso nível de tolerância, precisamos nos disciplinar. Abandone algo que você goste muito por uma semana. Isso vai moldar o seu caráter, aumentar a sua disciplina interior e fará de você uma pessoa mais tolerante consigo mesmo e com os outros.
AMOR É ACEITAÇÃO
A vida se torna bem sucedida apenas quando aprendemos a acomodar-nos e a ajustar-nos aos outros. Muitas coisas na vida não estão sob o nosso controle. Muitas coisas não podemos mudar, então é mais sábio aceitar a situação com um sorriso. Uma atitude de oração é o maior escudo interior. O comportamento inconsciente e o temperamento vacilante é a raiz dos nossos problemas. Isso também causa confusão ao nosso redor. O amor leva à aceitação.
Quando você para de reclamar e torna-se mais tolerante, você fica mais forte. Se nós aceitarmos as coisas como elas são, a vida se tornará mais fácil. Comece com coisas simples; como a chegada do inverno. Quando a gente reclama do frio, isso faz apenas com que fique mais difícil de suportar. O inverno é parte da vida. É o jogo de Deus. Pense, ao contrário, como as crianças gostam de brincar na neve, ou a beleza da neve. Aceite as coisas como elas são. As árvores aceitam o outono e o inverno com tranqüilidade, deixando cair as suas folhas e decorando o chão com elas. Elas sabem que o sol suave da primavera chegará novamente e novas folhas nascerão. A paciência e a tolerância da natureza não encontra barreiras.
Quando você começar a sua jornada espiritual, não reclame muito. Tente não ficar doente interiormente. Quando os problemas aparecerem, depare-se com eles corajosamente na forma de desafios. Então você perceberá que cada problema possui um elemento positivo. Para resolver um problema, você precisa de paciência e prática. Através da prática, tudo se torna fácil. Quando eu trabalhava em Cuttack e morava no Ashram de Puri, eu precisava ir para o trabalho de ônibus, e isso me tomava muitas horas todos os dias. Um tipo de música romântica tocava em volume alto nesse tipo de ônibus. Na minha mente, eu pensava naquelas musicas românticas como sendo dedicadas a Deus, e usava o tempo para meditação ao invés de ficar irritado. Se você persistir nas reclamações, a vida se tornará miserável. Eu também viajava de trem pela Índia. Os trens também são barulhentos, fazendo um som rítmico e perturbador que, com os meus olhos fechados, eu convertia em cânticos. Sendo que tudo é Deus, e sendo Ele onipresente, o som da máquina também é Deus. Quando temos uma visão determinada e focada, nada pode atrapalhar a nossa meditação.
O AMOR CONFIA
O amor baseia-se em fé e confiança. O amor aumenta quando a fé é mais intensa. Onde existe amor, não existe dúvida. A dúvida é um terreno de dificuldades. Há uma história no Ramayana.
Sita, a esposa de Rama, havia sido seqüestrada. Ela foi mantida numa ilha e, para ser resgatada, Rama precisava cruzar o oceano. Então Rama, com a ajuda do seu exército, pretendia construir uma ponte flutuante e pensava em como construí-la. Um soldado disse a ele que conhecia uma forma de fazer uma pedra flutuar na água. Rama estava curioso, pois isso era algo incomum. O soldado jogou a pedra, invocando o nome de Rama. Sendo Rama uma encarnação, e o soldado possuindo muita fé, a pedra começou a flutuar. Rama tentou fazer o mesmo, mas a pedra afundou. Rama estava surpreso, mas Hanuman, o deus-macaco, divertiu-se muito. Após certo tempo, ele explicou que a pedra afundou porque tudo o que é rejeitado por Deus sendo personificado por Rama, afundaria no oceano do mundo. No caso do soldado, a pedra flutuou devido à absoluta confiança e na fé em nome de Deus. Onde existir amor, existirá fé e confiança e tudo pode acontecer.
continua na próxima semana...
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