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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Yoga de Jesus por Paramahansa Yogananda




Capítulo 9- O Reino de Deus Dentro de Você



E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de

Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência

exterior; nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali, porque eis que o reino de

Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20-21).


Jesus dirige-se ao homem, o perene aspirante à felicidade permanente e à libertação de todo sofrimento: “O reino de Deus – da Consciência Cósmica eterna, imutável e sempre bem-aventurada – está dentro de vós. Contemplai vossa alma como reflexo do Espírito imortal e descobrireis vosso Eu abrangendo o império infinito do amor de Deus, de Sua sabedoria e bem-aventurança, presentes em cada partícula da criação vibratória, e no Absoluto Transcendente isento de vibrações.”


Os ensinamentos de Jesus acerca do reino de Deus – algumas vezes em linguagem direta, outras em parábolas repletas de significado metafísico – podem ser considerados o cerne de toda a sua mensagem.

O Evangelho registra que, ao início de sua missão pública, “veio Jesus para a Galileia, pregando o Evangelho do reino de Deus”. Sua exortação “Buscai primeiro o reino de Deus” está no âmago do Sermão da Montanha. A única oração que se sabe ter ele ensinado aos discípulos suplica a Deus: “Venha o Teu reino”. Repetidas vezes, Jesus falou do reino do Pai Celestial e da forma de alcançá-lo:


“Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.”


“Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.”


“Ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado.”


“E se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho, do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno.”


“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.”


“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim.”


Consideradas em conjunto, essas e as demais declarações de Jesus acerca do reino de Deus fornecem um abrangente entendimento de sua clara afirmação neste versículo: de que o reino de Deus é encontrado não

em “aparência exterior” – com o uso dos sentidos de visão, audição, paladar, olfato e tato, sintonizados com a matéria –, mas na interiorização da consciência a fim de perceber a Realidade Divina, que está “dentro de vós”.


“O reino de Deus não surge em resposta a aparências sensoriais; nem podem encontrá-lo aqueles que dizem: ‘Vede, ele está aqui, ou está em algum lugar, acolá, nas nuvens’. Em vez disso, concentrai-vos em

vosso interior e encontrareis a esfera da consciência divina, oculta por trás de vossa consciência material.”


Muitas pessoas pensam no céu como um local físico, um ponto no espaço, bem acima da atmosfera e para além das estrelas. Outras interpretam as afirmações de Jesus acerca da vinda do reino de Deus como referentes ao advento de um messias que viria estabelecer e governar um reinado divino sobre a Terra. Na verdade, o reino de Deus e o reino dos céus consistem, respectivamente, na imensidão transcendente da Consciência Cósmica e nos reinos celestiais causal e astral da criação vibratória, que são consideravelmente mais sutis e mais harmonizados com a vontade de Deus do que as vibrações físicas agrupadas como planetas, ar e ambiente terreno.

Os objetos materiais reconhecidos como sensações de visão, audição, olfato, paladar e tato constituem-se de um jogo de forças que se originam e existem além da capacidade de observação da consciência humana.


Cósmica. A matéria é energia física condensada; a energia física é energia astral condensada; e a energia astral é a condensação da força de pensamento primordial de Deus. Portanto, a Consciência Cósmica está oculta dentro e por trás das camadas da matéria, da energia física, da energia astral e do pensamento ou consciência. O mesmo que ocorre no macrocosmo se dá no microcosmo do corpo humano: a Consciência Cósmica, caracterizada por alegria sempre nova e imortalidade, é a criadora da consciência humana e, como tal, nela está imanente.
A partir da Consciência Cósmica infinita foram concebidas as almas individuais; essas ideações individualizadas do pensamento de Deus revestiram-se de mais duas camadas de manifestação externa, com as forças causais de consciência condensando-se no corpo astral de energiaA origem incipiente de todas as formas e vibrações materiais está na Consciência vital luminosa e no corpo mortal de carne e ossos.

Assim, o reino de Deus não está separado do reino da matéria, mas está tanto dentro dele – permeando-o sutilmente como sua origem e sustentáculo – quanto além dele, existindo nas infinitas mansões do Pai para além do circunscrito cosmos físico.

É por isso que Jesus disse que é inútil procurar o céu com a consciência concentrada em vibrações materiais – identificada com sensações do corpo, prazeres e confortos terrenos. No reino da matéria e da consciência corporal o homem encontra doenças, bem como sofrimentos físicos e mentais; mas, ao voltar-se para o reino interior, descobre o Consolador, o Espírito Santo ou a Vibração Cósmica de Om, manifestando-se nos centros cerebrospinais sutis de consciência espiritual.

Deixar-se arrastar para o exterior, pela corrente da consciência material, significa ser engolfado, queira-se ou não, pelo inferno do reino de Satã – a esfera dos apegos terrenos e limitações do corpo mortal. Seguir a corrente de consciência que nos leva para o interior, meditando em Om, significa alcançar o bem-aventurado reino de Deus que existe por trás da barreira opaca da existência física.

A comunhão com o divino Consolador traz sintonia com a Consciência Crística que habita o corpo, manifestando-se como a alma sempre perfeita. Pela comunhão mais profunda com a Consciência Crística surge a percepção da unidade da alma com o Espírito onipresente – o pequeno Eu expande-se no Eu infinito, abrangendo o reino divino ilimitado de Bem-aventurança sempre-existente, sempre-consciente e sempre-nova.

Toda alma limitada ao corpo pode descobrir o reino de Deus se mergulhar interiormente na meditação a fim de transcender a consciência humana e alcançar os estados sucessivamente mais elevados de superconsciência, Consciência Crística e Consciência Cósmica. Aqueles que meditam profundamente, concentrando-se com intensidade no estado de silêncio ou neutralização dos pensamentos, retiram sua mente dos objetos materiais de visão, audição, olfato, paladar e tato – de todas as sensações corporais e da perturbadora inquietude mental. Nesse estado de quietude interior focalizada, descobrem um inefável sentimento de paz. A paz é o primeiro vislumbre do reino interior de Deus.

Os devotos que desse modo possam interiorizar sua mente à vontade, concentrando-se por completo no resultante estado de paz, entrarão com certeza no reino da consciência divina. Essa realização gradualmente se expande em onipresença, onisciência, bem-aventurança sempre nova e visões dos reinos de luz eterna, onde todas as almas libertas se movem em Deus, materializando-se ou desmaterializando-se à vontade.

Ninguém pode entrar nesse céu da Consciência Cósmica a menos que interiorize profundamente sua consciência pelos portões da concentração e da meditação dedicadas. É por isso que Jesus afirmou categoricamente:


“O reino de Deus está dentro de vós”, quer dizer, nos estados transcendentes de suas percepções da alma.

Existe uma notável correspondência entre os ensinamentos de Jesus Cristo a respeito da entrada no “reino de Deus [que] está dentro de vós” e os ensinamentos da yoga, expressos por Senhor Krishna no Bhagavad Gita, acerca do restabelecimento do Rei Alma, o reflexo de Deus no homem, como legítimo governante do reino corporal, com a plena realização dos divinos estados de consciência da alma.

Quando o homem se estabelece nesse reino interior da consciência divina, a percepção intuitiva da alma assim desperta trespassa os véus da matéria, da energia vital e da consciência, revelando a essência divina no âmago de todas as coisas.


Ele habita no mundo, a tudo envolvendo – em toda parte,

Suas mãos e Seus pés; presentes em todos os lados, Seus olhos

e Seus ouvidos, Suas bocas e Suas cabeças.

Luzindo em todas as faculdades dos sentidos e, todavia,

transcendendo os sentidos, sem apego (à criação) e, todavia, o

Esteio de tudo, livre dos gunas (modos da Natureza) e, todavia,

Aquele que deles desfruta.

Ele está dentro e fora de tudo que existe, do que é animado

e do que é inanimado; próximo está, e também longe; imperceptível

em Sua sutileza.

Ele, o Indivisível, aparece como seres incontáveis; Ele

mantém e destrói essas formas e, então, as recria.

A Luz de Todas as Luzes, para além das trevas; o próprio

Conhecimento, Aquilo que é preciso conhecer, a Meta de todo

aprendizado, Ele Se assenta nos corações de todos (Bhagavad

Gita XIII:13-17).



Raja Yoga, o caminho régio da união com Deus, é a ciência da autêntica percepção do reino de Deus que está dentro de cada um. Por meio da prática das sagradas técnicas iogues de interiorização, recebidas durante a iniciação conferida por um verdadeiro guru, pode-se encontrar esse reino pelo despertar dos centros astrais e causais de força vital e consciência, na coluna vertebral e no cérebro, que são a entrada para as regiões celestiais da consciência transcendente. Quem alcança tal despertar conhece o Deus onipresente – tanto em Sua Natureza Infinita quanto na pureza de sua própria alma, e até mesmo sob o manto ilusório das formas e forças materiais mutáveis.

Patânjali, principal expoente da Raja Yoga na antiga Índia, delineou oito passos a serem seguidos para a ascensão ao reino interior de Deus:


1. Yama, conduta moral: abster-se de causar dano aos outros, da falsidade, do roubo, da imoderação e da cobiça.

2. Niyama: pureza de corpo e mente, contentamento em todas as circunstâncias, estudo de si mesmo (contemplação) e devoção a Deus.

3. Asana: disciplina do corpo, de modo que ele possa assumir e manter a postura correta de meditação, sem fadiga ou inquietude física e mental.

4. Pranayama: técnicas de controle da energia vital que acalmam o coração e a respiração e que removem da mente as distrações sensoriais.

5. Pratyahara: o poder de completa quietude e interiorização mental que ocorre quando a mente se retira dos sentidos.

6. Dharana: o poder de utilizar a mente interiorizada para a concentração unidirecional em Deus – em algum dos aspectos por meio dos quais Ele Se revela à percepção interior do devoto.

7. Dhyana: a meditação aprofundada pela intensidade da concentração (dharana), que permite conceber a imensidade de Deus, com Seus atributos manifestando-se na infinita extensão divina da Consciência

Cósmica.

8. Samadhi, união com Deus: o pleno conhecimento da unidade entre a alma e o Espírito.


Todos os devotos podem descobrir a porta para o reino de Deus concentrando-se no olho espiritual, o centro da Consciência Crística, no ponto entre as sobrancelhas. A meditação longa e profunda, como ensinada por um verdadeiro guru, capacita-nos a converter gradualmente a consciência do corpo material na percepção do corpo astral e, com as faculdades despertas da percepção astral, intuir estados cada vez mais profundos de consciência, até atingir a unidade com a Fonte da consciência.

Ao cruzar a porta do olho espiritual, deixamos para trás todos os apegos à matéria e ao corpo físico e ganhamos acesso às infinitas regiões interiores do reino de Deus.

Os tecidos do corpo físico são feitos de células; o tecido do corpo astral é composto de vitátrons – unidades inteligentes de luz ou energia vital. Quando o homem se encontra no estado de apego ao corpo, caracterizado pela tensão ou contração da energia vital em componentes atômicos, os vitátrons do corpo astral tornam-se compactados, circunscritos pela identificação com a forma física. Por meio do relaxamento metafísico, a estrutura vitatrônica começa a expandir-se – afrouxa-se o aperto do corpo sobre a própria identidade.

Por meio da meditação cada vez mais profunda, o arcabouço energético do ser astral se expande para além dos limites do corpo físico.

O corpo vitatrônico, pertencendo a uma esfera de existência livre das perplexidades impostas pelas limitações ilusórias do mundo físico tridimensional, tem o potencial de unir-se à Energia Cósmica que permeia todo o universo. Deus como Espírito Santo, a Vibração Sagrada, é a Luz da Energia Cósmica; o homem, feito à imagem de Deus, compõe-se dessa mesma Luz. Somos essa Luz compactada; e somos essa Luz de nosso Eu Universal.

Como primeiro passo para entrar no reino de Deus, o devoto deve sentar-se imóvel, na postura correta de meditação, com a coluna vertebral ereta; deve, então, retesar e relaxar o corpo – pois, pelo relaxamento, a consciência se liberta dos músculos. O iogue começa com a respiração profunda apropriada, inalando enquanto retesa o corpo e exalando enquanto relaxa, diversas vezes.

A cada exalação, todo movimento e tensão muscular devem ser eliminados, até que se alcance o estado de quietude corporal. Então, por meio de técnicas de concentração, o movimento inquieto é removido da mente. Na perfeita quietude do corpo e da mente, o iogue desfruta a inefável paz da presença da alma. A vida habita o templo do corpo; a luz, o templo da mente; e a paz, o templo da alma.

Quanto mais nos aprofundamos na alma, mais sentimos essa paz; esse é o estado de superconsciência. Quando, pela meditação mais profunda, o devoto expande tal percepção de paz e sente sua consciência difundindose, com essa paz, por todo o universo, e que todas as criaturas e toda a criação são engolfadas por essa paz, então ele está entrando no estado de Consciência Cósmica. Ele sente essa paz em toda parte – nas flores, em cada ser humano, na atmosfera. Ele contempla a Terra e os mundos flutuando como borbulhas nesse oceano de paz.

A paz interior experimentada inicialmente pelo devoto na meditação é a sua própria alma; a paz ampliada que sente ao aprofundar-se é Deus.

O devoto que alcança a experiência de sua união com todas as coisas estabeleceu Deus no templo de sua infinita percepção interior.


No templo do silêncio, no templo da paz, Eu Te encontrarei, eu Te tocarei, eu Te amarei!

Levar-Te-ei ao meu altar de paz.

No templo do samadhi, templo da beatitude,

Eu Te encontrarei, eu Te tocarei, eu Te amarei!

E, lisonjeado, irás ao meu altar.


Quando os pensamentos inquietos são eliminados, a mente se transforma, de modo natural, em um templo sagrado de paz. Deus insinua Sua presença no templo do silêncio e, então, no templo da paz. Primeiro, o devoto O encontra como paz fluindo do estado mental em que todos os pensamentos se transformam em pura percepção intuitiva. Ele toca o Senhor com o amor de seu coração e O sente como alegria; seu puro amor incita Deus a manifestar-Se no altar da percepção de paz.

O devoto adiantado sente Deus não apenas na meditação, mas O mantém constantemente no altar da paz de seu coração.

No templo do samadhi – união com a paz que é a primeira manifestação de Deus na meditação – o devoto descobre um estado de beatitude sempre nova, uma alegria que não decresce jamais.

A beatitude é um estado muito mais profundo do que a paz. Assim como uma pessoa muda sorve o néctar mas não tem como descrever seu sabor ambrosíaco, também o arrebatamento da beatitude encontrada no templo do samadhi conduz a uma eloquência muda. Somente essa alegria pode satisfazer o anseio inato do coração humano. Na meditação paciente, persistente, dia após dia, ano após ano, o devoto, pleno de amor, exige de seu Senhor:


“Vem a mim como alegria, na unidade do samadhi, e permanece para sempre em meu coração, no altar da bem-aventurança!” Quando, em nossos corações – em harmonia com os corações de todos os que amam a Deus no templo interior do silêncio e da bem-aventurança –, nos regozijamos na alegria de nosso único Amado, essa alegria unificada torna-se um imenso altar de Deus.

Cabe ao homem, como alma, praticar esse silêncio interior: encontrar Deus agora. Ao utilizar os sentidos, em meio às exigências da vida diária, o devoto retém a consciência: “Estou sentado no trono de paz do silêncio interior”. Durante a atividade, ele permanece interiormente recolhido: “Sou um deus de silêncio sentado no trono de cada ação”.

Sua equanimidade não é perturbada por emoções desgovernadas: “Sou um príncipe de silêncio, sentado no trono do equilíbrio”. Seu Eu interior,em harmonia com a eternidade, regozija-se, na vida e na morte: “Sou um rei de imortalidade, reinando no trono do silêncio. A destruição do corpo, os insultos da ilusão à alma, as imposições da inquietude, os testes da vida… todos são apenas dramas nos quais estou atuando e aos quais assisto como um divino entretenimento. Posso encenar meu papel por algum tempo, mas sempre, no refúgio interior de meu silêncio, contemplo o desenrolar do enredo da vida com a tranquila alegria da

imortalidade.”


Se, por meio da prática da meditação, persistirmos em bater às portas do silêncio, o Senhor responderá: “Entra! Eu te sussurrei através de todos os disfarces da natureza; e agora te digo: Eu sou a Alegria – a Fonte viva da Alegria. Banha-te em Minhas águas, purificando-te de teus hábitos e de teus medos. Sonhei um belo sonho para ti; mas tu, Meu filho, o transformaste em um pesadelo!” Deus deseja que Seus filhos deixem de ser filhos pródigos e que cumpram como imortais o seu papel na vida para que, ao abandonarem o palco desta Terra, possam dizer: “Pai, foi um bom entretenimento, mas agora estou pronto a voltar para Casa”.


É um pecado contra a natureza divina do Eu julgar que não exista chance de ser feliz, abandonar toda esperança de atingir a paz.






Paramahansa yogananda


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