Interpretação Metafórica por Paramahamsa Hariharananda
Continuação da edição anterior da Cultura da Alma on-line, do O Bhagavad Gita na Luz da Kriya Yoga: Livro 3 por Paramahamsa Hariharananda, disponível através do Kriya Yoga Institute.
Capítulo 16 Versos 21-22
Verso 21trividham narakasye ‘dam
dváram náçanam átmanaà
kámaà krodhas tathá lobhas
tasmád etat trayam tyajet
Tradução
Este é o portão triplo do inferno, que destrói a personalidade: paixão, raiva e cobiça. Portanto, devemos evitá-los.
Interpretação Metafórica
No verso anterior, o Senhor disse que as pessoas com qualidades demoníacas vão para o inferno. Então, inevitavelmente a seguinte pergunta vem à tona, Onde é o inferno? Como é o inferno? Em quase todas as religiões as pessoas acreditam em algum tipo de inferno. Eles também acreditam que se pode ir para o inferno após a morte. Porém, neste verso o Senhor diz categoricamente que quando um ser humano deixa que a paixão, a raiva e a cobiça o dominem, ele já abriu a porta do inferno.
Kama (paixão, desejo, volúpia, ambição), krodha (raiva, inveja) e lobha (cobiça, possessividade) são correlacionados e conectados por causalidade. Estas três qualidades Rajásicas são discutidas em detalhe no Bhagavad Gita 2:62-63, 3:37 e em vários outros lugares. Estas três qualidades são a semente, o fertilizante e o terreno para o crescimento da todas as qualidades negativas na vida de uma pessoa. Ambição, medo, raiva e cobiça trazem sofrimentos sem limite, conflito, doenças e morte; como resultado, há sempre remorso, ansiedade e tensão. As pessoas de disposição negativa permanecem nas regiões mais baixas do ser, do centro do coração para o centro da base da coluna. Lembre-se, quando uma destas qualidades vier a tona, então está entrando na porta do inferno.
Até que, e a não ser que, essas pessoas aprendam a controlar suas vidas e eliminar suas propensões negativas tais como falatório desnecessário, mente agitada e inteligência destrutiva, elas não podem entrar no estado de pureza. Suas vidas estão com os dias contados, cheias de misérias e sofrimentos, inferno nesta vida agora.
Para sermos livres e prosseguirmos em direção a Deus, precisamos de calma extrema. A calma é a fundação de todas as religiões e é essencial para a liberação. Serenidade, paz, amor e calma, estão unidas e são a mesma coisa. Mas as pessoas rajásicas, cheias de paixão, raiva e cobiça são extremamente agitadas; pessoas tamásicas são letárgicas e ignorantes. Em ambas, não há calma. As pessoas com estas qualidades negativas pulam de uma atividade para outra, cometendo um erro após o outro, mentindo constantemente e, portanto, criando tensão e problemas para seu coração e cérebro. Descendo numa espiral para seus quatro centros mais baixos, as pessoas demoníacas desenvolvem ansiedade, agitação, saúde debilitada e vários tipos de doenças. Elas estão no inferno.
Os que buscam a espiritualidade devem ser extremamente cuidadosos e vigilantes. As qualidades negativas nascem da ignorância. Quando estas tendências aparecem, devemos cortá-las imediatamente com a espada da sabedoria. (Veja o Bhagavad Gita 4:42.)Verse 22
etair vimuktaà kaunteya
tamodvárais tribhir naraà
ácaraty átmanaà çreyas
tato yáti parám gatim
Tradução
Liberado dessas três portas que levam a escuridão, Oh filho de Kunit (Arjuna), um homem faz o que é melhor para ele e então se direciona para a meta maior (Deus).Interpretação Metafórica
O inferno é chamado um local de escuridão porque as pessoas permanecem constantemente na escuridão da ignorância, mas devemos nos liberar da assim chamada atração e apego às três qualidades demoníacas, e fazer o que é melhor. O Senhor está dizendo “Oh Kaunteya (filho de Kunti), você não anda pelos centros baixos, você fixa sua atenção no topo, ouvindo a voz do divino. Você tenta ao máximo ser completamente livre da ambição, raiva e cobiça. Você está constantemente procurando pelo eu interior, e tenta alcançar o objetivo mais elevado da vida.”O Senhor está agora descrevendo o caminho da espiritualidade-meditação. Ele dá dois conselhos: primeiro, faça o que for melhor para si mesmo e segundo, alcance o maior objetivo. Procurar o seu verdadeiro eu, evitando, para isso, as qualidades negativas e permanecendo na verdade é o melhor para cada um de nós; realizar Deus e moksha (liberação) são os maiores objetivos. O alvo está na fontanela e a meditação é a maneira de chegar lá.
A pituitária e a fontanela são os locais da calma; se praticarmos sinceramente sob a orientação de um mestre realizado, nos livraremos de todas as qualidades negativas em pouco tempo. Consideremos a história de Ratnakar, um conhecido assassino, que rapidamente, com a ajuda de um mestre realizado, deixou suas más qualidades e vida pecaminosa e a partir daí ficou conhecido como Valmiki, o grande poeta da Índia antiga e autor do grande épico, o Ramayana. Tudo depende da vontade de cada um.
Se praticarmos tentando ir além dos sentidos através da percepção das três qualidades divinas de luz, vibração e som no corpo inteiro como Ratnakar fez, poderemos ir além da sensação corporal e da sensação do mundo. Ratnakar se tornou tão calmo e tão extremamente absorvido na consciência de Deus que ele não reparou nem mesmo quando formigas brancas construíram um monte sobre seu corpo inteiro.
Todos podem descobrir esta calma extrema e alcançar a realização de Deus. Todos podem ir ao estado sem forma e perceber o pai todo poderoso cobrindo o corpo inteiro e o mundo inteiro durante cada respiração. Podemos até alcançar o estado sem respiração e podemos perceber e compreender os Quatro Grandes Pronunciamentos dos Vedas:
1. aham brahmasmi: Eu sou Deus.
2. tattwamasi: Você é Isso.
3. ayamatma brahma: Minha alma imortal é Brahma.
4. prajñanam brahma: Sabedoria é Deus.
Entrando no ponto do átomo da consciência que permeia tudo na fontanela é perceber samadhi, o estado sem pulsação e sem respiração. Esta é a mais alta liberação alcançada através de meditação profunda. Este é o melhor e mais supremo trabalho que podemos fazer.