Yogiraj Lahiri Mahasaya- Gita Bodh por Swami Bidyananda Giri
Era a primeira metade do século 19. A Índia e sobre tudo a região de Bengala estavam vivendo um período de renascimento. Bengala estava cheia de reformas didáticas, literárias, religiosas e sociais. SRI SHYAMACHARAM LAHIRI MAHASAYA, o grande yogue e santo reservado estava entre aquelas almas iluminadas de Bengala que, nos anos seguintes, tornaram-se famosas em todo o mundo por terem enriquecido e sustentado o curso sempre novo da religião. A vida deste grande santo não foi uma sucessão de fatos memoráveis.
Foi uma vida de simples e silenciosa nobreza, um ininterrúpto e puro fluir de comunicação com Deus. SRI SHYAMACHARAN era em autêntico exemplo de alma liberta, vívida manifestação de um homem centrado em uma sabedoria e de uma inteligência constante e firme. Não era um eremita, nem renunciou à casa e família. SRI SHYAMACHARAN foi um perfeito exemplo de como um homem que vive dentro da sociedade, nascido e crescido em uma normal família, com as contínuas ansiedades e preocupações, embora cumprindo, as responsabilidades e os deveres familiares e trabalhando para viver, possa viver uma existência extraordinariamente pura e desapegada. Por isto, sua vida tornou-se o centro de grande peregrinação, uma nascente de cultura yogue capaz de satisfazer a todos. Do homem mais comum da rua, ao aspirante mais avançado, todos que se banharam no secreto riacho divino de sua santa vida, foram abençoados com a obtenção do sucesso, no seu próprio caminho. A finalidade da vinda de SRI SHYAMACHARAN, neste mundo, foi a de incutir no homem a corrente secreta da sabedoria da realização de Deus, mesmo em meio a uma vida de atividades. Os seus discípulos e os discípulos dos discípulos, não só na Índia, como também na América e na Europa, levaram o fogo divino de sua vida inestimável para ascender o mundo religioso à novas dimensões, dando à humanidade diretivas práticas para conduzir uma verdadeira vida religiosa.
YOGIRAJ SRI SHYAMACHARAN nasceu em Bengala, em GHURNI, um vilarejo situado às margens do rio Jalangi, perto de KRISHNANAGAR, distrito de Nadia – um famoso centro de cultura, lugar de nascimento de muitos grandes santos (entre os quais SRI CHAITANYA). É difícil precisar a exata data do nascimento do grande yogue. Segundo os seus netos, ele nasceu numa terçafeira, trinta de setembro de 1828 ( o sexto dia do mês de Aswin segundo do calendário bengalês).
YOGIRAJ SRI SHYAMACHARAN era um descendente da pia família BRAHMANE dos BHATTACHARYA, que foi levada por KANYAKUBJA para Bengala, pelo rei Adisura, da dinastia SEN. No início, estabeleceram-se nos distritos de Bagura e Murshidabad e usufruíram uma propriedade doada pelo rei. Em seguida, SRI RAMBALLAV LAHIRI, bisavô do YOGIRAJ, teve uma amizade íntima com SRI RAGHURAN ROY, rei de KRISHNANAGAR e se fixou em Ghurni, perto de KRISHNANAGAR. Também ali foram proprietários de grandes terras, mas no decorrer do tempo a impetuosa corrente do rio Jalangi e uma devastadora enchente, acontecida naquele período, arruinaram completamente a propriedade. Depois disso o pai do Yogiraj, SRI GOURAMOHAN LAHIRI, decidiu deixar GHURNI e fixar residência em Benares, com toda a família. Isto aconteceu em 1843 (1240 da era Bengalesa).
Sabe-se que ainda antes desta data a família LAHIRI havia começado a visitar Benares por breves períodos de tempo. Disseram - nos que foi principalmente por motivos comerciais que eles visitavam Benares, chegando lá de barco e passando por Gajipur, etc.
A mãe de SRI SHYAMACHARON, SRIMATI MUKTAKASHI DEVI, era uma mulher muito voltada para a vida espiritual. Ela não tomava nem água, se antes não tivesse adorado o senhor SHIVA; e de um certo modo, o próprio compadecido senhor SHIVA, nasceu de SRIMATI MUKTAKASHI DEVI como SRI SHYAMACHARAN. Também seu nobre pai, SRI GOURAMOHAN, era uma pessoa piedosa e devota do senhor SHIVA; além disso, conhecia muito bem as sagradas Escrituras e era muito culto e inteligente. Em GHURNI havia um templo dedicado ao senhor Shiva, fundado pelos antepassados de SRI GOURAMOHAN; assim, quando ele se transferiu para Benares com a família mandou construir, na sua propriedade, alguns templos para SHIVA e estabeleceu o culto cotidiano. Embora o templo de SHIVA em Ghurni permanecesse submerso, sob o leito do rio Jalangi durante as cheias, uma senhora, guiada por um sonho, recuperou o SHIVA LINGAN do fundo do rio e colocou em um novo templo. Desde então, o símbolo de SHIVA, venerado pela família de LAHIRI, existe ainda naquela localidade e é chamado de “JALESHWAR SHIVA”.
A mãe do Yogiraj, SRIMAT MUKTAKASHI DEVI6, deu seu último suspiro quando ele tinha apenas cinco anos; não se sabe com certeza se morreu em Ghurni ou em Benares. Sabemos muito pouco sobre os primeiro anos de vida de SRI SHYAMACHARAN. Às vezes o menino calmo, doce e contemplativo permanecia sentado, horas a fio, na margem arenosa do rio Jalangi, imerso em profunda meditação. Outras vezes, durante a adoração ao senhor SHIVA, ficava sentado imóvel, concentrado diante da entrada do templo. SRI SHYAMACHARAN tinha apenas cinco anos quando a família transferiu-se para Benares. O que sabemos de sua infância e adolescência faz-nos conhecer a sua natureza calma e controlada. Nem uma vez foi possível encontrar nele alguma imprópria frivolidade, nem mesmo quando estava brincando ou se divertindo ou nadando. Desde pequeno SRI SHYAMACHARAN era calmo e austero, uma imagem sóbria do desapego. A sua natureza mostrou claramente os sinais de uma completa indiferença com relação à roupas e alimentos. Ficar à espera de algo ou criar casos ou fazer teimosia por qualquer motivo, era contrário ao seu modo de ser. Às vezes ia à escola levando consigo só arroz e não dizia nada a ninguém, mesmo que não tivesse a refeição noturna. O futuro YOGIRAJ SRI SHYAMACHARAN era um menino de natureza desprendida.
Com a idéia de estabelecer-se permanentemente em Benares, SRI GOURAMOHAN comprou uma casa em SIMAN CHOUHATTA, no bairro de Madanpura de Benares, e ali foi viver coma família. No início, SRI SHYAMAVHARAN foi admitido na escola “Jainarain”, situada na zona de Garu - deswar Mohulla.
Era uma escola missionária cristã, fundada por SRI JAINARAIN, o rei de BHU-KAILASH. Embora fosse muito erudito e um BRAHMANE ortodoxo, com profundo conhecimento dos VEDA, o pai de SRI SHYAMACHARAN era um homem de visão muito liberal. Naquele período, uma educação à moda inglesa tinha se tornado muito popular na Índia. As pessoas mais progressistas da sociedade foram atraídas pelo sistema didático inglês. Já o filho mais velho de SRI GOURAMOHAN, CHANDRAKANTA, tinha encontrado trabalho em uma companhia inglesa de Calcutá devido ao seu conhecimento em inglês. Tendo assim percebido a importância da instrução inglesa, SRI GOURAMOHAN predispôs-se para que o filho menor recebesse uma instrução completa. Assim SRI SHYAMACHARAN teve oportunidade de aprender todas as matérias, inclusive hindi, urdu, parsi, sânscrito e inglês. Ele tinha uma grande vontade de aprender.
Costumava pegar na biblioteca da escola livros de valor, escritos em inglês e em parsi e os lia completamente sozinho, tomando nota das partes mais importantes. Tinha também um profundo amor pelo aprendizado do sânscrito.
Naquele tempo vivia em Benares um BRAHMANE de MAHARASTRA, chamado NAGBHTTA , que tinha reconhecido conhecimento dos VEDAS e dos PURANAS. SRI SHYAMACHARAN aprendeu os VEDAS com ele, adquirindo, sobretudo, um profundo conhecimento do RIG-VEDA e das UPANISHAD.
Também seu pai, SRI GOURMOHAN, era bem conhecido entre os PANDITS de Benares, pela sua vasta erudição dos VEDAS e das sagradas Escrituras.
SRI SHYAMACHARAN estudou até a idade de vinte anos. Não nos foi possível saber se fez o exame final na faculdade (college). Casou-se quando tinha dezoito anos, enquanto ainda estudava no “college”. SRI DEBNARAIN BACHASPATI (SANNYAL), um douto BRAHMANE, era seu vizinho de casa e amigo íntimo de SRI GOURAMOHAN. Todos os dias tinham o hábito de discutir juntos algumas partes das sagradas Escrituras. KASHIMONI DEVI, a única filha de BACHASPATI MAHASAYA, desde pequena costumava ir à casa de SRI GOURAMOHAN, juntamente com seu pai, para depois brincar com o jovem SHYMACHARAN. Era como se KASHIMONI DEVI, a companheira das brincadeiras da infância, estivesse se preparando para ser a futura esposa e companheira de SRI SHIMACHARAN 11.Por ocasião do casamento, KASHIMONI DEVI tinha apenas nove anos. SRI SHYMACHARAN era de pele clara e de belo aspecto; ao passo que KASHIMONI DEVI era de pele ligeiramente escura, ajuízada e de bom caráter. Nos últimos anos de sua vida SRI SHYMACHARAN atravessou períodos de grande dificuldade econômica, mas dificilmente a necessidade pôde pesar sobre ele, graças à inteligente administração da nobre esposa, imperturbável e sempre paciente. Apesar da pobreza, todas as várias atividades da família, a adoração cotidiana, a hospitalidade, etc., foram realizadas com o máximo cuidado. Sentia-se obrigada, ela mesma, a dar esmola ao primeiro mendigo que batesse à sua porta, todas as manhãs.
Logo após o casamento, SRI SHYMACHARON teve que começar a trabalhar para ganhar a vida. Em 1849 empregou-se como escrivão de contabilidade a serviço do corpo de engenheiros militares do distrito de Benares. Por ser insuficiente o ganho com este trabalho, procurou aumentá-lo ensinando ao seu superior hindi, urdu e parsi. No trabalho satisfez plenamente as autoridades superiores com a sua honestidade, disponibilidade e sentido do dever; com o passar dos anos foi promovido aos graus mais altos. Tornou-se muito famoso pelo seu caráter calmo e tranqüilo.
Em 1852, poucos anos após ter entrado para o serviço, SRI SHYMACHARAN perdeu o pai. A erudição, a inteligência, a previdência de SRI GOURAMOHAN, como também a austeridade e a devoção religiosa da mãe, SRIMATI MUKTAKHI DEVI, refletiram no caráter do santo filho SRI SHYAMACHARAN, dotando-o, desde jovem, com a qualidade de um homem bem comedido, seguro de si e de firme inteligência.
Sendo um verdadeiro educador como era, o jovem SHYAMACHARAN começou a dar instrução aos meninos da vizinhança. Inicialmente, com a ajuda dos amigos mais generosos, fundou uma escola primária: a “Bengalitola Preparatory School”. Com o passar dos anos, motivado pelo interesse geral pelo tipo deinstrução à moda inglesa, a escola foi equiparada às superiores (english high school). SRI SHYAMOCHARON manteve o seu posto de secretário por longotempo, contribuindo, notavelmente, para o posterior desenvolvimento da escola.
Se tinha tempo, ia à escola e ensinava pessoalmente aos alunos. O seu amoroso interesse pelo tranqüilo funcionamento da escola era tal que, às vezes, ia lá, no meio da noite, para verificar se os vigias estavam fazendo o trabalho deles.
Após ter funcionado por quase um século, com uma ótima reputação, hoje a escola foi ampliada e compreende também um “college”. No mesmo período no qual fundou a “Bangalitola English High School”, SRI SHYAMACHARAN procurou dar vida a uma escola feminina, que porém não conseguiu, por causa da oposição da sociedade da época.
Depois de ter prestado serviços em Benares, Gajipum e Marjapur, SRI SHYAMACHARAN foi transferido para Danapur (perto de Patna). Foi em Danapur que, em 1861, aconteceu o incidente inesperado que iluminou a sua vida com o esplendor divino da consciência espiritual. Improvisamente recebeu ordem de transferir-se de Danapur para Ranikhet. Foi ali – na região do Himalaia, em UTTAR PRADESH, em uma gruta secreta, vizinho a Ranikhet- que ele foi abençoado pelo encontro com o seu guru, o grande sábio SRI SRI BABAJI MAHARAJ.
Em 1861, na zona de Ranikhet, novos trabalhos de construção de estradas e casas deveriam começar, por conta do escritório militar. Transferindo SRI SHYAMACHARAN para Ranikhet, as autoridades do escritório de abastecimento encarregaram-no de fazer todos os preparativos necessários.
Uma vez que naquela época a comodidade de viajar de trem não era ainda possível, SRI SHYAMACHARAN chegou a Ranikhet, percorrendo a longa distância, com uma carroça puxada por cavalos, em companhia de outras pessoas.
A ordem da transferência de Danapur para Ranikhet foi realmente um fato misterioso. Não era para ele ser transferido, mas erroneamente os seus superiores o transferiram, no lugar de outra pessoa. Não é improvável que a graça de Deus, às vezes, venha a um devoto sob a aparência de um erro; e o incidente da transferência de SRI SHYAMACHARAN é um exemplo claro disto. Todo o jogo da transferência foi só um ato de vontade divina de MAHAMUNI BABAJI MAHARAJ. SRI SHYMACHARAN foi transferido para Ranikhet, no lugar de uma outra pessoa, por causa de um erro cometido pelo Oficial responsável pelo escritório de Danapur. Graças a este incidente pôde acontecer a iniciação de SRI SHYAMACHARAN, a inauguração do caminho de KRIYA-YOGA e o início de uma nova era no reino da religião, para o benefício da humanidade e para conduzir milhões de buscadores da verdade à liberação.
Todos os dias, depois do trabalho, SRI SHYAMACHARAN costumava passar o tempo andando pelas montanhas dos arredores de Ranikhet a graciosa morada da natureza. Graças à amizade com as pessoas do lugar, ele soube que um santo muito ancião vivia em uma gruta pouco distante. Sentiu um desejo fortíssimo de ver o santo. As montanhas eram infestadas de animais ferozes e as trilhas eram desconhecidas; por isso deveria voltar ao acampamento antes que escurecesse. Por todos estes motivos, apesar dos seus esforços, por alguns dias, o ardente desejo de ver o santo, não foi satisfeito. Finalmente, um dia partiu com outras pessoas enquanto ainda havia luz. Escalava a montanha com todo ardor de seu ser, mas a trilha não tinha fim, nem havia sinal da gruta. O sol estava já para se pôr; os seus companheiros voltaram, mas SRI SHYMACHARAN recusou-se a voltar, sem ter encontrado o santo. Enquanto continuava a subir, encontrou um asceta de expressão serena e que tinha o cabelo todo trançado. Transbordando de alegria perguntou curioso: “Senhor, vos sois o santo ancião deste lugar?” O santo respondeu com um sorriso: “O grande yogue realizado que você quer ver está em uma gruta ainda mais no alto.
Geralmente ele dá o DARSHAN (se mostra) ao entardecer. Eu sou um dos discípulos que ele aceitou. Peço-te, venha comigo um pouco mais e encontrará o grande sábio”. Estava para cair a noite. SRI SHYAMACHARAN escalava veloz as alturas com a intenção simplesmente de ver a gruta, para poder voltar um outro dia. Pouco depois, alcançada a gruta, um santo de aparência luminosa e angélica, saiu sorridente da gruta e se dirigiu a SRI SHYAMACHARAN como se fosse um velho conhecido: “Ei! SHYAMACHARAN. Por favor, venha aqui”.SAYAMACHARAN ficou muito surpreso ao ouvir seu nome saindo da boca de um santo que não conhecia. Provavelmente- pensou- o santo soube o meu nome por alguém do escritório. SRI SHYAMACHARAN ficou tremendamente surpreso quando, após ter saudado o santo, este começou a dizer os nomes e os lugares onde haviam morado os antepassados dele, como se fosse para ele muito familiar. Então pensou consigo mesmo: “Certamente este santo está procurando convecer-me com algum truque”. O onisciente e sagaz grande yogue – MAHAMUNI SRI SRIBABAJI MAHARAJ – lendo a mente titubeante de SRY SHYAMACHARAN, disse: “ Você se engana, SAYAMACHARAN; não sou um trapaceiro. Olhe, esta é a sua gruta, onde você realizou o seu SADHANA:
Não se lembra ? Olhe aquela ASHNA de pele de tigre, aquele DANDA (bastão) e aquele KAMANDALU (recipiente para água). Exatamente aqui você realizou o seu SADHANA na vida passada. Eu tomei conta de tuas coisas até agora . SRI SHYAMACHARAM ficou confuso, ainda mais, incapaz de entender alguma coisa de tudo aquilo! SRI SRI BABAJI MAHARAJ tocou gentilmente na sua cabeça e , naquele instante, a memória perdida de SRI SHYAMACHARAN retornou.
Agora podia reconhecer a gruta, o lugar do SADHANA e o ASHANA, o DANDA e o KAMANDALU usados por ele. Este era o lugar para ele mais sagrado do amado SADHANA do passado! Aqui, diante dele, estava o seu venerado e imensamente compassível GURUDEVA MAHAMUNI MAHAVATAR SRI SRI BABAJI MAHARAJ! Por muitas vidas tinha sido humilde devoto, filho e discípulo deste onisciente santo divino! Despertado para a consciência do seu verdadeiro Ser, SRI SHYAMACHARAN se prostrou profundamente aos sagrados pés de Lótus do seu santíssimo GURUDEVA. Então SRI SRI BABAJI MAHASARAJ disse ao amado discípulo: “ Fui eu que encontrei um modo de fazê-lo vir aqui. O seu superior o transferiu por um erro 15 . Eu criei esta ilusão na mente dele. Trouxe você aqui para lhe dar mais uma vez a iniciação, para o bem do mundo. Eu conservei o seu ASHANA, DANDA e KAMANDALU nesta gruta.” Escutando todas estas coisas com sagrada, reverente e silenciosa surpresa, SRI SRI SHYAMACHARAN caiu novamente aos pés do amado mestre e , uma vez que havia reencontrado o seu GURUDEVA, implorava dizendo que não tinha o menor desejo de deixá-lo , nem retornaria mais para casa. Mas tudo isso não seria possível, disse SRI BABAJI MAHARAJ. Nesta encarnação SRI SHIAMACHARAN deveria dedicar sua vida ao serviço à humanidade enquanto vivia no mundo, como chefe de família.
No dia seguinte SRI SHYAMACHARAN acampou perto da gruta de SRI BABAJI MAHARAJ. Depois de ter executado alguns trabalhos no escritório, permaneceu a maior parte do tempo na sagrada companhia do seu divino GURUDEVA. Dois dias antes da iniciação, a pedido de BABAJI, SRI SHYAMACHARAN deveria beber uma xícara de óleo de rícino para purificar o corpo e a mente16. Como conseqüência disto, SRI SHYAMACHARAN permaneceu deitado às margens do rio Gaugus, que corria na vizinhança da gruta. Após vômitos violentos, apesar de estar ainda debilitado, ele se arrastou até a gruta do seu GURU. Então, após ter bebido um suco, sentiu-se muito melhor. Já era tarde da noite e as montanhas estavam em silêncio, sob um céu estrelado; o momento propício para a iniciação de SRI SCYAMACHARAN havia chegado!
Realmente um milagre divino! Em poucos minutos SRI SHYAMACHARAN estava com SRI SRI BABAJI MAHARAJ em um palácio extraordinariamente lindo.
Como foi possível materializar-se este palácio em meio a uma densa floresta circundada por cadeias de montanhas? Qualquer coisa é possível para o grande Yogue e Avatar SRI SRI BABAJI MAHARAJ18, que tornou-se totalmente uno com o criador, o Senhor Supremo. A arte da criação está sob o seu domínio. O palácio era majestoso, o ambiente magnificamente encantador; todos os cômodos eram bem decorados, a cama incrustada com ouro e os móveis adornados com pedras preciosas. Não faltava nada naquela morada celestial. E, naquele maravilhoso palácio aconteceu, com grande esplendor, a iniciação de SRI SHYAMACHARAN. Festejando durante toda à noite com a divina fragrância da beatividade celeste, ao amanhecer Sr. SHYAMACHARAN encontrou-se, novamente, sentado junto do seu Gurudeva. Em nenhum lugar conseguiu encontrar traços de algum palácio. A grandeza dos poderes sobrenaturais da yoga está além da imaginação da comum mente humana.
Alguns dias após a iniciação de SRI SHYAMACHARAN, as autoridades do comando militar ordenaram que voltasse, novamente para Danapur. Assim, após ter tomado conhecimento de todos as técnicas de KRIYA-YOGA, em um breve tempo , então deixou Ranikhet para retornar a Danapur. No momento da partida, SRI SRI BABAJI MAHARAJ abençoou o amado discípulo, dando-lhe ao mesmo tempo, autoridade para dar a iniciação a todos, independente de casta ou credo religioso. Sensibilizado pelas orações de SRI SCHYAMACHARAN, SRI SRI BABAJI MAHARAJ prometeu-lhe que toda vez que o chamasse ele responderia ao apelo do discípulo manifestando-se, imediatamente, na sua presença.
A iniciação de SRI SHYAMACHARAN marcou o começo de um fluxo de vida divina, advento de uma resplandecente luz espiritual, no firmamento do mundo religioso ; esta luz, em seguida, daria vida à YOGODA SATSANGA SOCIETY, organização religiosa fundada por PARAMAHANSA YOGANANDA e dedicada à Auto-Realização. A ciência de KRIYA - YOGA é uma contribuição excepcional que proporcionou à humanidade, do oriente e do ocidente, amante da paz, um refúgio seguro de confiança suprema. Após a iniciação, SRI SCHYAMACHARAN virou uma nova página de sua vida.
Daí em diante viveria uma vida santa, de um grande yogue muito evoluído. Mergulhando profundamente em austeras práticas espirituais, silenciosamente e na maior discrição, ele se firmou na superconsciência do SAMADHI e, finalmente, brilhou como guia espiritual para aqueles que desejavam ardentemente aprender o método de comunhão com Deus. O plano divino para difundir a KRIYA-YOGA da Índia no mundo ocidental iniciou-se neste período. Após a iniciação, quando SRI SHYAMACHARAN expressou a sua dúvida quanto a possibilidade de praticar o árduo caminho da Yoga em meio à vida ativa do mundo, SRI SRI BABAJI MAHARAJ o tranqüilizou dizendo: “Volte para Benares; encontrará tempo suficiente para as práticas espirituais apesar de viver no seio da família. Difunda a glória de KRIYA-Yoga entre os chefes de família e entre as pessoas do mundo que possuam sincero desejo espiritual.
Faça com que, dentro da vida familiar, haja o exemplo de um verdadeiro yogue-chefe-de-familia”. Após a iniciação, SRI SHYAMACHARAN foi para um lugar solitário e praticou yoga em silêncio, na mais profunda discrição e com extrema sinceridade. No início, nem os seus parentes, nem os membros da sua família souberam de suas práticas yogues. Nos poucos dias em que esteve com SRI SRI BABAJI MAHARAJ, em Ranikhet, tornou-se conhecedor das mais elevadas técnicas e dos supremos estados da KRIYA-YOGA. Apesar de ser um chefe de família, ele alcançou uma elevação fascinante no SADHANA e isto graças à sua incomparável perseverança na prática de KRIYA. Embora continuasse a viver em família e a ocupa-se não só do trabalho oficial, mas também de outras atividades em pró do bem público, continuou sempre a práticar KRIYA com a máxima sinceridade e devoção. A Bhagavad Gita afirma: “Qualquer coisa que um grande homem faz, a mesma coisa farão todos os outros (homens); a maioria da humanidade segue o exemplo que ele coloca diante deles”.
Por isso, parece que SRI SHYAMACHARAN tenha praticado todas estas intensas austeridades com o único propósito de colocar um exemplo diante dos olhos dos aspirantes e, especialmente, daqueles que viviam a vida de chefe de família. A vida excepcional de SRI LAHIRI MAHASAYA serviu de exemplo para demonstrar como um homem, embora vivendo em meio à dor contínua e ao sofrimento do mundo, à mercê das chamas da miséria tripla, possa construir a sua estrada em direção à liberação e seguir a via da auto - realização. O rei Janaka, muito antigo, era e é reverenciado como um sábio em sintonia com Deus e isto graças às práticas ascéticas realizadas enquanto continuava a ocupar-se da família e dos negócios do reino. O rei sábio Janaka, tendo alcançado a liberação, enquanto vivia ainda no corpo e com o coração sereno, cumpriu as penosas obrigações e responsabilidades do reino, deu à humanidade de todos os tempos um exemplo luminoso de realização divina. Seguindo as pegadas do rei-sábio Janaka, SRI SHYAMACHARAN, enquanto levava uma vida familiar normal, conseguiu uma tal profundidade de auto - realização que SRI SRI TRAILANGA SWAMI, o maior dos yogues de seu tempo, levantou-se da sua cadeira para dar-lhe as boas vinda. Em seguida o Swami teria dito aos seus discípulos: “Vejam, SHYAMACHARAN conseguiu aquela consciência suprema que eu busquei renunciando a tudo, até à minha roupa”.
Como todos os homens casados, também SRI LAHIRI MAHASAYA teve os seus problemas familiares e certamente não em menor medida. Logo após a morte do pai teve que passar por todos os sofrimentos das brigas em família.
Abandonou a casa paterna e foi viver em uma casa de aluguel, onde conheceu a miséria da pobreza. Mas ninguém nem nada podia perturbá-lo. Em 1864 SRI SHYAMACHARAN comprou uma nova casa na Zona de Garudeshwar e foi morar lá com a família; foi nesta casa que sua vida terrena terminou. Os seus dois filhos homens20, o mais velho, Tinkari Lahiri, e o menor, Dukari Lahiri, nasceram, respectivamente, o primeiro em 1863, e o segundo em 1865. Foi por volta deste período que a propriedade da família Lahiri em Krishnanagar – local de residência original deles – foi definitivamente perdida21. Também esta foi uma desaventura bastante dolorosa, mas, apesar de tudo, SRI SHYAMACHARAN não perdeu a coragem. Além disto tudo, foi neste período que SRI SHYAMACHARAN conseguiu superar uma grande dificuldade financeira graças à inteligência aguçada, à parcimônia e à escrupulosa administração da economia doméstica realizada pela devotada esposa, Srimati Kashimoni Devi.
Durante a viagem de retorno de Ranikhet para Danapur, SRI SHYAMACHARAN passou alguns dias em Moradabad e em Benares. Em Moradabad ficou na casa de alguns amigos.Toda noite alguns vizinhos se reuniam, naquela casa, para conversar. Durante uma daquelas reuniões, incidentalmente, SRI SHYAMACHARAN falou dos milagrosos poderes yogues do seu reverendíssimo GURUDEVA, SRI SRI BABAJI MAHARAJ. Na sociedade da época, muitas pessoas educadas à moda inglesa negavam até a existência de Deus. As pessoas instruídas, em geral, afirmavam que os chamados santos e monges eram magos e trapaceiros, comerciantes de mistérios. Dizer que por meio da prática do Yoga era possível realizar o próprio Ser e que poderiam existir personalidades divinas como a de SRI SRI BABAJI MAHARAJ eram todos falatórios insensatos, não dignos de créditos. SRI SCHYAMACHARAN sentiu preocupação e ansiedade diante desta atitude das pessoas instruídas. Tomado, como estava, pelos excepcionais poderes da Yoga, no seu coração manifestou-se a inspiração de apresentar, diante daqueles ateus, uma prova concreta da existência de Deus e de manifestar a glória dos poderes divinos pela Yoga, evocando a grande encarnação, SRI SRI BABAJI MAHARAJ, diante delas. Quando SRI SCYAMACHARAN expressou sua intenção, todos os presentes concordaram, com curiosidade, com sua proposta. A sala foi limpa e preparada; SRI SHYAMACHARAN sentou-se sobre um cobertor e preparou outro para SRI SRI BABAJI MAHARAJ. As portas e as janelas da sala foram fechadas. Os curiosos ficaram do lado de fora da sala.
Era um momento muito propício; realmente um momento de grande prova, sendo a atmosfera calma e tranqüila. Todos esperavam, impacientemente, com os olhares voltados para a porta. Passaram –se alguns instantes e as portas e janelas foram abertas. SRI SHYAMACHARAN informou a todos que SRI SRI BABAJI MAHARAJ estava sentado no interior da sala e cada um poderia ir lá para vê-lo. Era uma ilusão ou um ato de mágica? SRI SRI BABAJI MAHARAJ era um homem em carne e osso ou era talvez um fantasma ? Depois de muita agitação, ficou decidido de se experimentar se o santo poderia comer. Com tal finalidade foi preparado o HALUA (um doce à base de sêmola de trigo). O compassível MAHAVATAR MAHAMUNI SRI SRI BABAJI MAHARAJ pegou a comida na presença de todos e , então, abençoou os presentes. As portas e janelas foram fechadas mais um vez. Como tinha vindo do ar, do mesmo modo ele desapareceu no ar. Após um tempo, quando a porta foi aberta, encontraram somente SRI SHYAMACHARAN sentado na sala. SRI SHYAMACHARAN podia sentir-se verdadeiramente feliz por ter tido sucesso no início de sua vida espiritual, mas involuntariamente havia causado descontentamento a SRI SRI BABAJI MAHARAJ e foi por ele repreendido por tê-lo chamado sem que houvesse uma verdadeira necessidade, apenas para satisfazer a curiosidade, fútil de poucas pessoas. O MAHAMUNI disse a SRI SHYAMACHARAN que daquela data em diante não mais responderia àquele tipo de oração , e que iria encontrá-lo somente quando fosse necessário.
A mente descrente daquelas pessoas transformou-se diante da visão da glória de Deus, quando puderam observar, diretamente, os maravilhosos e milagrosos poderes da prática da Yoga.
Alguns pediram imediatamente a iniciação a SRI SHYAMAVHARAN.
O primeiro que recebeu dele a iniciação, em Benares, foi um florista do templo de KEDERESHWAR; então foi a vez de SRI BHAGAVAN DAS, um devoto HARIJAN (sem casta) que foi infinitamente abençoado pela iniciação. Embora fosse um homem de grande erudição na cultura védica e um BRAHMANE de classe alta, dando a iniciação a todos, sem fazer distinção de casta nem de credo, SRI SHYAMACHARAN foi o pioneiro de uma revolução social e religiosa, na sociedade indiana da época. Se algum PANDIT protestava contra esta iniciação, ele respondia: “ Pode-se encontrar pessoas de mentalidade inferior entre os BRAHMANES e de mentalidade BRHMANICA entre os Hindus de classe baixa. Por isso considero como meu dever dar a iniciação a todo buscador espiritual sincero, sem fazer distinção de casta ou credo “. E, realmente, viu-se que homens de todas as castas e credos, do BRAHMAN PANDIT ao mais baixo SUDRA, dos Hindus intocáveis aos Mulçumanos, e até aos ingleses, todos encontraram um lugar no grupo dos seus discípulos.
Quando souberam dos seus milagrosos poderes sobrenaturais, aos poucos os seus parentes foram recebendo iniciação, dada por ele. Também sua esposa foi abençoada com a iniciação, após um incidente estranhíssimo. De coração puro e continuamente empenhada nas atividades domésticas, no início Kashimoni Devi dificilmente perceberia que o marido estava extraordinariamente evoluído no seu SADHANA: Um dia, acordando de repente, no meio da noite, percebeu que SRI SHIAMACHARAN não estava no quarto; contudo a porta estava fechada por dentro. Estranhou o fato, e de repente percebeu que SRI SCHYAMACHARAN estava sentado no ar, levitando, em posição de lótus, no interior do quarto e o seu corpo estava circundado de luz. Tudo aquilo lhe pareceu um sonho. Percebendo que era momento oportuno, SRI SCHYAMACHARAN lhe disse com voz clara: “Mulher, você está ainda dormindo; acorda, afasta do seu corpo este sono ilusório e desperta”. Devido à ardente súplica da perpléxa KASHIMONI DEVI, ele desceu e naquela mesma noite abençoou-a dando-lhe a iniciação. Nos anos seguintes, realizando grandes feitos na prática da Yoga, KASHIMONI DEVI mostrou-se uma companheira digna do YOGIRAJ SRI SHYAMACHARAN LAHIRI MAHASAYA.
Embora SRI SHYAMACHARAN desse iniciação a todos, sem fazer distinção, independente de casta ou credo religioso , contudo costumava avaliar o estado mental de cada um dos buscadores e a alguns não a concedia. Ao invés de dar a iniciação às pessoas que sentiram-se apenas momentaneamente não apegadas devido a um sofrimento temporário, ele costumava mandar de volta para casa aqueles pobres aflitos, dando-lhes consolação e conselhos diversos.
Muitos não tiveram sucesso nos seus pedidos de iniciação, se não havia chegado o momento oportuno para a prática da Yoga ou se não tinham sentido nos seus corações um sentimento forte de não-apego. Outros, ainda, não puderam receber a graça da iniciação nem mesmo após terem esperado cinco ou dez anos; por outro lado, houve devotos de muita sorte porque foram abençoados com a iniciação logo após tê-lo encontrado. A outros, ainda, foi permitido receber a iniciação após a autorização dos próprios familiares.
No momento de dar a iniciação SRI SHYAMACHARAN tinha o hábito de seguir alguns costumes27 . O devoto que desejava ser iniciado deveria receber alguns votos no momento da iniciação: 1- Não direi a ninguém sobre a minha iniciação em KRIYA-YOGA; 2- De agora em diante considerarei e respeitarei todas as mulheres como se fossem minha mãe; 3- Enquanto estiver vivo continuarei a praticar KRIYA e se adoecer procurarei praticar KRIYA mentalmente; 4- Farei o possível para ter, sob controle, os inimigos da alma, como sexo, a raiva, etc, e praticarei TAPAS (austeridade e abstinência); 5- Permanecerei em companhia de pessoas santas, lerei o BHAGAVAD-GITA todos os dias e me considerarei a mais humilde de todas as pessoas.
Até que ponto SRI LAHIRI BABA, mesmo no seu estado de SADGURU, considerava-se verdadeiramente o mais humilde de todos, estava claramente evidente no comportamento dos seus discípulos. Costumava dizer a todos; “Se alguém me pergunta, exponho –lhe simplesmente este método excelente que eu mesmo obtive”. De fato ele costumava criar uma relação de jovial amizade com os seus discípulos. Além disso, não permitia que ninguém o cumprimentasse tocando-lhe os pés. Quando os discípulos se inclinavam diante dele para saudá-lo, também ele retribuía a saudação com ainda maior humildade, reconhecendo cada pessoa como manifestação da divindade. Recomendando ao KRIYABAN para praticar a KRIYA com perseverança e com o máximo segredo e isolamento, dizia: “Meu filho, trabalhe para sua liberação; não há necessidade de falar com ninguém mais”.
Mesmo durante o intenso período de austeras práticas yogues, SRI SHYAMACHARAN continuou a desenvolver regulamente o seu trabalho e estava sempre pronto a seguir as ordens dos seus superiores. Apesar de estar continuamente obrigado a andar de lá para cá, ou a trabalhar ou a falar com as pessoas sobre coisas importantes, ele tinha a aparência de uma estátua móvel e estava sempre, profundamente, imerso em contemplação, como se fosse um habitante da “cidade celeste”, completamente tomado pelo fervor da existência-consciência e beatitude absoluta, privo de qualquer sentimento do mundo exterior e liberto do corpo enquanto ainda em vida. Esta é, exatamente, a característica do homem de ação, tal como é descrita na BHAGAVAD-GITA. SRI SHYAMACHARAN era verdadeiramente a perfeita encarnação daquele trecho do GITA que diz: “embora esteja sempre empenhado na ação, eu não faço absolutamente nada”. Apesar dos inúmeros compromissos das atividades do mundo, SRI LAHIRI BABA expressava sempre e com a máxima naturalidade, a sua realização do Absoluto BRAHMAN, presente em todas as criaturas vivas, e a sua intuição que transcendia tempo e espaço Tudo isto teve comprovação um dia no escritório onde trabalhava, em Danapur. A esposa do superintendente29 do seu escritório caiu gravemente doente em Londres e não tendo ele recebido cartas da esposa por um longo tempo, o marido estava muito aflito. Vendo o grande sofrimento do homem, SRI SHYAMACHARAN pôs-se, imediatamente, a meditar em uma sala isolada. Passado um tempo o Yogiraj saiu sorridente da sala e disse ao oficial que não havia motivos para ele se preocupar; a esposa já estava curada da doença e logo ele receberia uma carta dela. Assim dizendo citou trechos da carta. O superior ficou muito surpreso; ele estava de certa forma, familiarizado com os feitos milagrosos dos Yogues devido à sua longa permanência na Índia, mas dificilmente esperaria que as palavras de Yogiraj se revelassem verdadeiras, nos mínimos particulares. Alguns dias depois o oficial recebeu uma carta da esposa e, quando constatou que a predição de SRI SHYAMACHARAN tinha sido exata em todos os detalhes, então constatou a importância e autenticidade dos misteriosos poderes da Yoga. Assim, a fama dos poderes sobrenaturais de SRI LAHIRI MAHASAYA começou a difundir-se por toda parte. O que aconteceu depois foi ainda mais surpreendente. Passado algum tempo, a esposa do oficial foi se encontrar com o marido na Índia. Um dia, visitando o escritório do marido, ela ficou surpresa ao encontrar SRI SCHYAMACHARAN. Durante a sua doença tinha visto aquela mesma pessoa, que a consolava, perto do leito do hospital; daquele momento em diante a sua cura foi sendo feita. O seu espanto não teve limites quando viu, diante dos seus olhos, o homem que havia visto em sonho. Quando soube toda a estória, a senhora ficou imensamente grata ao enlevado Yogiraj. Então, ela e o marido não tiveram mais dúvida sobre a grandeza dos poderes da Yoga.
Quando vivia em Danapur, SRI LAHIRI MAHASAYA recebeu uma lição significativa do seu GURUDEVA. Ele sentia antipatia pelos monges errantes fortemente inclinados a fumar HASHISH. Um dia, enquanto percorria as ruas da cidade, ele viu SRI SRI BABAJI MAHARAJ que limpava os utensílios de um desses SADHU, viciado em HASHISH. O divino BABAJI MAHARAJ disse, com voz firme, ao estupefato SHYAMACHARAN: “ Tome consciência de que o Divino está presente em cada ser humano, não desdenhe de ninguém; prestar serviço aos SADHU é uma ação nobre. Lembre-se que o senhor mora em cada criatura viva. Quem pode saber como e por meio de quem Ele se manifesta? Todos os SADHU merecem o seu serviço .”
Compreendo o significado daquilo que o onisciente SRI SRI BABAJ MAHARAJ havia dito, SRI SRI SHYAMACHARAM prostou-se profundamente aos seus pés e implorou o perdão dele. Desde então ele têve grande respeito por todos os tipos de SADHU. MAHAVATAR BABAJI MAHARAJ lhe fez ver a verdade que o Senhor está presente em todos os seres vivos e então desapareceu no ar.
Um carteiro chamado Brinda Bhakat foi a primeira pessoa que ele iniciou em Danapur. Sri Brinda Bhakat evoluiu tanto em sabedoria espiritual que, freqüentemente, era convidado a participar de reuniões com pessoas eruditas para esclarecer pontos difíceis da Sagrada Escritura30. Provando que as verdades da Yoga estão presentes de maneira latente, em todos os sistemas de realização de Deus, Sri Brinda causou surpresa e admiração aos PANDITS doutos.
No período que vai de 1872 a 1885 Sri SHYAMACHARAN prestou serviço alternadamente em Danapur e Benares. Quando trabalhava em Danapur ele ficava sozinho. Durante este período numerosos devotos receberam iniciação. Depois que deixou o serviço, em 1885, ele viveu em uma casa em Garudeshwar, em Benares, até o último dia de sua vida.
SRI LAHIRI MAHASAYA tinha 57 anos quando se aposentou31. Como o seu salário era bastante modesto ele procurou complementar seus rendimentos dando aulas particulares. Foi professor particular de Sri Prabbunarain Singh, filho do KASHI NARESH, o rei de Ramnagar. O próprio KASHI NARESH, o rei Ishwarinarain, era culto, inteligente e muito devotado ao estudo das antigas e sagradas Escrituras; naturalmente admirava o PANDIT dedicado ao estudo dos VEDAS. À proporção que reconheciam a suas realizações espirituais e o profundo conhecimento das sagradas Escrituras, o rei e o príncipe ficavam, cada vez mais atraídos pelo Yogiraj. Também os altos oficiais da corte real o consideravam com a máxima reverência. Devido ao incômodo ao qual SRI LAHIRI BABA devia submeter-se todos os dias, pelo fato de ter que se deslocar de Banares para Ramnagar, o rei decidiu, com grande zelo, que o Yogiraj vivesse no mesmo palácio real. Tanto o rei ISHWARINARAIN, como o príncipe foram iniciados em KRIYA-YOGA; 32 depois deles, muitos oficiais da corte real de Ramnagar receberam iniciação em KRIYA-YOGA. Devido à idade avançada ele não pode permanecer em Ramnagar por muito tempo. Então retornou a Benares e permaneceu em sua casa. Ainda hoje a sala onde sentou-se, ininterruptamente, durante os últimos anos de sua vida terrena, dia e noite absorto em SAHADI, é considerada por todos os praticantes de KRIYA-YOGA um lugar sagrado de peregrinação.
Embora tenha se tornado como o senhor Shiva, o maior de todos os yogues, YOGIRAJ SRI LAHIRI MAHASAYA nunca recusou o trabalho comum feito para o bem da humanidade.
Naquele tempo, a caça dos pombos que viviam nas margens do Ganges, em Benares, incomodava a muitos. SRI SCHYAMACHARAN sofria muito com a morte dos pássaros, que eram sacrificados diante dos seus olhos, sem nenhum motivo; foi assim que fez uma queixa junto às autoridades competentes, para que pusessem um fim àquela absurda crueldade. Como resultado do seu ato, em pouco tempo, a morte dos pombos que viviam nas margens do Ganges foi proibida para sempre.
Uma vez, em 1886, por ocasião do casamento do filho caçula SRI DUKARI LAHIRI, SRI LAHIRI MAHASAYA foi para Bishnupur33. Pelo respeito expontaneamente mostrado ao Yogiraj, muitos devotos de Bishunupur reuniram-se ao grupo de seus discípulos e receberam a iniciação em KRIYA-YOGA. Também nos nossos dias pode-se encontrar KRIYABANS, altamente desenvolvidos, em muitas zonas dos distritos de Bankura e Bishupur.
Desde a juventude, YOGIRAJ LAHIRI MAHASAYA foi inspirado pelos ideais de zêlo e integridade. Cumprindo exemplarmente todos os seus deveres como, por exemplo, a realização das obrigações familiares, o serviço prestado ao bem público e a prática das austeridades espirituais feitas com cuidadosa observância da disciplina, ele quis nos mostrar o grande ideal de sua vida perfeita. Durante todo o período que esteve em serviço, nunca usou uma licença por motivo que não fosse sério, somente para passar um tempo futilmente. Por natureza era sempre alegre e incansável. As vicissitudes da vida nunca podiam entristecê-lo. Devido ao seu ganho modesto, realizou todos os deveres familiares e sociais com parcimônia e comedidamente, e isto seja com relação as necessidades familiares, seja na instrução dos filhos ou ao fazer caridade. A tal propósito devemos recordar que a contribuição de Srimati Kashimoni Devi não foi menos importante do que a do marido. Todavia, apesar do modesto ganho, SRI SHYAMACHARAN pôde construir 5 ou 6 casas em Benares.
A sala da casa de Garudeshwar Mohulla é hoje considerada, por todos os KRYABANS, como um lugar sagrado de peregrinação ligado à santa memória de SRI SRI SHYAMACHARAN LAHIRI
MAHASAYA; foi nesta sala onde ele passou a maior parte de sua existência terrena, a partir do momento em que se, aposentou, permanecendo sempre imerso, profundamente , no estado divino da consciência do Ser. Durante este período, um notável número de aspirantes, que tomaram conhecimento de sua iluminação espiritual, teve a sorte e o privilégio de refugiar-se sob a sua santíssima proteção, recebendo a iniciação em KRIYA-YOGA. Nesta época, quase todo dia, após ter tomado banho no Ganges e de ficar sentado por algum tempo no pátio interno da casa de SRI KRISHNARAN, um devoto BRAHMAN MAHARATI que morava em RANAMAHAL, o levava para a casa. Algumas vezes, visitava a casa de Krishnaranji, também à noite, discutia coisas sobre KRIYA-YOGA com os devotos e discípulos. Krishnaranji era o sacerdote da divindade do templo que foi construído pela rainha de Udaypur. Ele seguia SRI SRI LAHIRI MAHASAYA como uma sombra, prestando-lhe inumeráveis serviços. Quando, por causa da doença, o corpo se SRI SRI LAHIRI MAHASAYA tornou-se muito debilitado – um pouco antes da sua morte – o devoto Krishnaranji ficou, incansavelmente, dia e noite a seu serviço.
Cerca de dez anos antes do MAHAPRAYAN (a grande saída final do corpo ou MAHASAMADHI), que aconteceu em 1895, SRI SRI LAHIRI BABA começou a explicar as mais importantes Escrituras sagradas segundo os princípios de KRIYA-YOGA. O grupo de discípulos que sentava-se aos seus pés de lótus, e que praticava regular e sinceramente KRIYA, costumava anotar as suas explicações. Entre estes discípulos principais queremos mencionar os nomes de Sri Panchanon Bhattacharya, Srimat Swami Sri Yukteshwar Giri, Sri Prasad das Goswami e Sri Bhupendranath Sannyal34. O grande GURU SRI SRI LAHIRI MAHASAYA nunca escreveu um livro, nem nunca se preocupou em publicar alguma Escritura entre aquelas comentadas por ele. Srimat Panchanon Bhattacharya Mahasay, um dos seus principais discípulos, fundou em Calcutá uma organização ( a ARYA MISSION INSTITUTE) que tinha como finalidade a difusão de KRIY-YOGA, e então começou a publicar as sagradas Escrituras com os comentários de SRI LAHIRI BABA: Inicialmente, estes livros foram distribuídos somente entre sinceros KRIYABANS, porque os comentários de SRI LAHIRI BABA, breves e sintéticos, eram simples acenos profundamente erméticos, baseados na realização espiritual e vistos à luz das práticas yogues. Para o homem comum o significado daqueles comentários parecia incompreensível. De fato, havia a possibilidade de uma errônea interpretação das mais secretas doutrinas da vida espiritual. Nos anos que se seguiram, alguns de seus discípulos publicaram muitas daquelas sagradas Escrituras dirigindo-se ao leitor comum e dando uma elaborada explicação das palavras de verdade praticada pelo mestre. As pessoas ardentemente religiosas, os aspirantes às práticas yogues e, sobretudo, os iniciados KRIYABANS consideraram as sagradas Escrituras explicadas por SRI SRI LAHIRI BABA como um refúgio supremo no campo das dificuldades espirituais encontradas ao longo da prática individual. Entre as sagradas Escrituras por ele comentadas, as principais são: a SRIMAD BHAGAVAD GITA, as YOGA SUTRAS de Patanjali, a filosofia VAISHESHIKA, a filosofia SANKHYA , a CHARAKA-SAMHITA, o JAPJI, a filosofia VEDANTA, a ASHTAVAKRA SAMHITA, a KABIR GITA, o MIMANSARTHA SANGRAHA, a MANU SAMHITA ou MANU RAHASAYA.
Entre os seus deveres mais importantes estava o de manter um diário onde anotava, todos os dias, as coisas mais importantes e os conselhos necessários para a prática espiritual.
A cama de madeira, o velho tapete, o par de sandálias de corda que ele usava, estão até hoje conservadas na sala do Yogiraj, em honra à sua memória. Também a cópia do Bhagavad-Gita
escrita em DEVANAGARI, que ele costumava ler, é até hoje recitada pelos seus descendentes.
Sobre a cama de madeira, na sala, há um grande retrato a óleo de SRI SRI LAHIRI BABA, pintado pelo seu digno discípulo-artista Sri Gangadhar Dey.
Em 26 de setembro de 1895, no momento de união do MAHA-ASTAMI, YOGIRAJ SRI SRI SHYAMACHARAN LAHIRI deixou definitivamente este plano terreno para alcançar a eterna
morada, reservada a um yogue. Só um mês antes daquela data apareceu, no corpo dele, um furúnculo, nas costas. Segundo seu desejo, o corpo não foi operado. Seguindo as suas instruções, sobre a ferida foi aplicado só óleo de NEEM (óleo extraído de uma árvore). No momento do ARATI(adoração com luzes, etc) do SANDHI-PUJA do MAHA-ASTAMI (a adoração de Durga no momento de transição entre o 8º e o 9º dia dedicado a ela), quando os sinos começaram a soar, Yogiraj Sri Lahiri Mahasaya abriu os olhos pela última vez, pousou o seu olhar compassivo sobre os familiares e discípulos reunidos em volta e então os fechou definitivamente, tomando o vôo Divino em direção à morada celeste, em perfeita paz e tranqüilidade. Deixando o plano da atividade terrena, a sua entidade imortal retornou ao pacífico seio do onipresente e divino Ser (PARAMATMAN). Ambos os filhos, os parentes, a esposa, muitos discípulos e devotos estavam presentes na sua passagem.
Seis meses antes que deixasse o corpo, um dia, ele confidenciou a Srimati Kashimoni Devi que em breve poria um fim ao seu jogo (LILA) terreno. Também naquela ocasião, SRI SRI LAHIRI BABA expressou o desejo que o seu corpo fosse colocado em uma tumba, no interior de sua casa . Mas a sua vontade não pôde ser realizada porque, no momento decisivo, todos os familiares estavam tão transtornados pela dor e o seu desejo foi completamente esquecido. Ao mesmo tempo, os santos e PANDITS de Benares expressaram-se favoráveis à cremação do corpo. Inúmeros discípulos e devotos de SRI LAHIRI MAHASAYA realizaram os últimos ritos sagrados no famoso Manikarnika Ghat, de Benares. Após a cremação, as suas cinzas foram misturadas com a areia do rio Ganges e com a preciosa pasta de sândalo e, então conservadas em um vaso, que está ainda hoje, preservado devotamente em um recanto da sua casa.
Descrever a magnitude dos poderes yogues de SRI LAHIRI BABA pode ser apenas uma excentricidade de ser humano comum. Os que tiveram o privilégio de estar constantemente em sua sagrada companhia, puderam, até um certo ponto, dar testemunho dos seus poderes yogues. Está muito além da capacidade intelectual do ser humano comum compreender a grandeza dos progressos espirituais de um grande santo que realizou Deus; um santo ao qual almas libertas como aquelas de Sri Trailanga Swami, do grande estudioso monista Swami Bhaskarananda e de muitos outros santos e PANDITS de Benares – reconhecendo o seu estado sempre puro de iluminação e liberação – homenagearam-no pelas suas excepcionais austeridades religiosas. Aqui mencionaremos só poucos exemplos que ilustram os seus extraordinários poderes yogues, para proveito dos leitores de inclinação religiosa. Embora, às vezes, o esplendor dos poderes milagrosos se manifestassem, no seu comportamento exterior, para despertar nos discípulos e nos devotos interesse e intusiasmo pelas práticas espirituais em geral, SRI SRI LAHIRI MAHASAYA evitava demonstrá-los. Como o seu onisciente GURUDEVA SRI SRI BABAJI MAHARAJI, ele também gostava de viver uma vida que passasse inobservada aos olhos públicos. A sua vida cotidiana estava além do jogo dos opostos de esperança e desesperança, simpatia e antipatia, prazer e dor. Em 1892 morreu, em casa, a sua segunda filha. Naturalmente toda a casa estava coberta com um manto de dor e havia prantos e lamentações por toda parte, porém SRI SRI LAHIRI MAHASAYA permaneceu sentado , como de costume, na sala, em posição de meditação, sem demonstrar a menor perturbação.
Um vez, os discípulos e devotos de SRI SRI LAHIRI BABA desejaram ardentemente possuir uma sua fotografia42. Um dos discípulos, o famoso artista Sri Gangadhar Dey, foi autorizado a tirar uma foto. Embora todo o resto aparecesse na foto, a imagem de SRI SRI LAHIRI MAHASAYA sempre faltava. Não conseguindo após várias tentativas, finalmente Gangadhar Babu caiu aos pés do mestre. SRI SRI LAHIRI BABA era puro espírito, onipresente e onisciente. Como poderia um mecanismo técnico e inanimado captar a sua forma? Gangadhur Babu admitiu a derrota da ciência material diante da ciência espiritual e pediu ao mestre que desse a sua permissão para que os discípulos pudessem ter uma foto da amada forma física. Finalmente Lahiri Baba satisfez o desejo dos seus devotos. Esta é a única fotografia que temos dele, e agora, nas mãos de vários artistas, tomou diversas formas. Mostrando a fotografia, ele costumava avisar aos seus discípulos dizendo: “Prestem atenção, não concluam o trabalho colocando, simplesmente, pasta de sândalo e flores diante da imagem; ao mesmo tempo devem fazer KRIYA, JAPA e meditação todos os dias”. Uma vez disse a um dos seus parentes mais próximos: ” Se a consideram apenas como uma foto, então assim será. Mas se, com devoção, a considerarem como viva e cheia de consciência, então ela, como conseqüência , produzirá efeitos.
Em outra ocasião, Sri Chandramohan, um jovem vizinho de SRI SRI LAHIRI MAHASAYA, após ter se formado em medicina, foi até ele para receber a benção. Cheio de amor SRI SRI LAHIRI BABA alongou o braço diante do novo doutor para testar a profundidade do seu conhecimento médico, pedindo-lhe para sentir a sua pulsação. Após ter sentido o pulso, o doutor Chandramohan ficou mudo devido à surpresa: não havia nem pulso, nem respiração, mas Lahiri Baba estava consciente e o seu corpo estava perfeitamente normal. O recém formado e a sua ciência médica não puderam resolver o mistério daquela retenção dos sentidos. Finalmente o Yogiraj explicou-lhe algumas coisas técnicas da ciência da yoga e concluiu: “ Chandramohan, não existe um fim para a consciência , que é ilimitada; por isso alimente sempre no seu coração o desejo de sabedoria”. O doutor Chandramohan foi especialmente abençoado porque recebeu a iniciação dada pelo grande yogue. Um médico chamado Pareshnath, naquela época, era muito famoso em Benares. Paresnhnath “Kaviraj”era considerado pela sociedade como um DHANWANTARI, o médico dos deuses. Uma vez escreveu uma interpretação do CHARAK-SAMBITA – o livro da medicina indiana. O fato corroborou, posteriormente, a sua fama nos círculos médicos. Aconteceu que, por acaso, SRI SRI LAHIRI BABA leu a interpretação e, porque havia algumas interpretações errôneas, ele não ficou muito satisfeito . Quando Pareshnath Kaviraj escutou os comentários de Lahiri Baba ficou fascinado. O Yogiraj mandou chamar o médico e explicou-lhe os erros de interpretação à luz dos princípios da yoga . O sábio médico admitiu o erro e fez as devidas correções, desde então foi dignamente acolhido como um devoto sincero . Kaviraj Mahasaya recebeu a iniciação em KRIYA-YOGA e obteve muita iluminação espiritual. Às vezes ficava tão profundamente imerso em SAMADHI que SRI SRI LAHIRI BABA tinha que ir à sua casa para trazê-lo para a consciência externa. Por ilimitada reverência para com o seu GURUDEVA , Kaviraj Mahasaya doou a casa construída com suas próprias economias para a família de SRI SRI LAHIRI BABA.
Sri Subaran Mistri, um discípulo de Lahir Mahasaya, nos dá um perfeito exemplo de como um homem possa estar passando grandes dificuldades devido aos seus desejos vãos. O artesão carpinteiro Suraran era um homem simples, modesto e de boa natureza. O nome e a fama de Subaran Mistri espalhou-se até por terras distantes devido às suas refinadas qualidades artísticas e à sua capacidade de criar elegantes objetos de madeira. Por muitos anos consecutivos fez exposição dos seus trabalhos artísticos na França e em outros lugares da Europa. Toda vez que retornava da Europa, Subaran sentia um enorme prazer quando contava os acontecimentos da viagem ao seu GURUDEVA, Sri Sri Lahiri Mahasaya. Em nenhuma das suas viagens de navio tinha assistido a uma tempestade e isto era uma espécie de desejo que ele alimentava, mas que não se realizava46. Tendo tido outra oportunidade de participar de uma nova exposição, Subaran Mistri viajou por mar, levando todo o seu material artístico. Após alguns dias de navegação, houve uma tempestade terrível, o navio estava quase para afundar e os passageiros estavam mortos de medo.Também Subaran Mistri foi tomado pelo medo e começou a rezar para Sri Sri Lahiri Baba. Benevolente e caridoso para com os seus fiéis devotos, Yogiraj Lahiri Mahasaya respondeu às preces de Subaran e o acalmou, mas ao mesmo tempo o repreendeu com tom muito duro dizendo: “Por que este desejo frívolo? Agora olhe o perigo e a dor intensa da tantas pessoas”! A iniciação de Sri Hitlal Sarkar 47, do vilarejo de Akra (no distrito dos 24 Pargamas, Bengala), foi um outro exemplo luminoso da intuição espiritual do grande yogue Shyamacharan Lahiri. Hitlal era um comum operário de fábrica. Embora ganhasse pouco e fosse difícil suprir as necessidades de sua casa, quando encontrava alguém em grande dificuldade ou na pobreza, Hitlal doava o que tinha. Ele não era muito dedicado à vida familiar e assim, uma manhã saiu de casa para ir para a fábrica, mas ao invés de ir para o trabalho, foi para Benares. Quando chegou em Benares, cidade que ele não conhecia, não sabendo onde ficar, começou a caminhar de um lugar para outro até que entrou em uma rua do quarteirão de Bengalitola, como se alguém o tivesse conduzido ali por meio de hipnose. Parado, diante dele, na porta de uma casa, havia uma pessoa de bom aspecto, de pele clara e de modos tranqüilos; aquele homem estava ali como se esperasse um novo hóspede. SRI SRI LAHIRI BABA convidou - o para entrar em casa e deu-lhe hospitalidade. Então Hitlal entendeu que o seu desejo seria satisfeito; aquele santo era o seu veneradíssimo GURUDEVA. A cerimônia de iniciação realizou-se no momento oportuno. Após ter recolhido o grande tesouro, Hitlal regressou para casa cheio de imensa alegria.
Após a morte de Lahiri Mahasaya alguns parentes e as mulheres de sua família puderam testemunhar, em muitas ocasiões, a sua Divina presença48. Observou-se que todo ano, no momento da passagem, no dia do MAHA-ASTAMI (oitavo dia da lua crescente no mês de ASWIN, setembro ou novembro), o seu retrato pintado a óleo, mantido sobre o sofá da sala, onde ele sentava-se sempre nos últimos anos de sua vida, ficava coberto de nuvens por alguns minutos e após alguns segundos a obscuridade se dissipava. Um grande infortúnio abatia-se sobre a casa se alguém tirava do lugar qualquer um dos objetos que ele havia usado e que eram mantidos com veneração na sala. O problema só era resolvido quando o objeto era recolocado no seu lugar e se inclinavam diante do Yogiraj. Um outro acidente estranho foi narrado por Kashimoni Devi, esposa do Yogavatar. Na idade madura Kashimoni Devi tinha o costume de repousar após o almoço, permanecendo completamente só no quarto por umas duas horas. Junto à cama havia uma cadeira. Todos os dias, na mesma hora, SRI SRI LAHIRI BABA vinha, no seu corpo etéreo, sentava-se e falava com Kashimoni Devi. Pode parecer inacreditável, mas para um eminente santo, um grande yogue e um homem de profunda sabedoria tal coisa é realmente possível. Ele estava completamente unido com o Senhor supremo, o Divino Pai do universo, e consolidado na equanimidade perfeita. Ao doce comando da sua vontade, podia materializar e desmaterializar a sua forma corpórea.
Não havia limites para os poderes sobrenaturais do Yogiraj SRI SRI LAHIRI MAHASAYA. Apesar do seu coração ser imperturbável como o do senhor Shiva - o maior dos yogues- o seu olhar tudo via, a sua compaixão era extremamente compreensiva e todas as orações chegavam aos seus ouvidos. SRI SRI LAHIRI BABA estava, por assim dizer, presente no ser interior dos seus devotos e discípulos , como se cada um deles estivesse sempre diante dos seus olhos e ele pudesse escutar o coração de todos. Abhya, uma discípula que vivia em Calcutá, uma vez teve um grande desejo de ver o seu divino GURUDEVA. Assim apressou-se para pegar o trem para Benares. Quando chegou à estação o trem já estava para partir da plataforma e Abhya ainda tinha que comprar a passagem. Viu-se o que o trem permaneceu parado e incapaz de mover-se, como se houvesse algum defeito mecânico . Na estação começou a haver confusão e gritaria. Contudo, ninguém conseguia descobrir qualquer defeito e nem o trem andava um só centímetro. Incidentalmente, o chefe da estação correu para a bilheteria e, vendo Abhaya com tanta pressa, ele mesmo comprou a passagem e a colocou no trem. Logo que se acomodou no assento, o trem começou a se movimentar. No dia seguinte, quando chegou em Benares, Abhaya compreendeu que o que havia acontecido tinha sido, simplesmente, um milagre realizado pelo próprio Yogiraj50. Mesmo tendo sido repreendida e convidada a ser mais pontual quando fosse pegar o trem, o coração de Abhaya encheu-se de devoção e reverência pois percebeu a glória do cuidado sempre vigilante do seu GURUDEVA: Em outra ocasião, já tendo perdido oito filhos, mortos logo após o nascimento, Abhaya rezou ardentemente para o seu divino GURUDEVA para que pudesse ter um outro filho. Também desta vez SRI GURUDEVA satisfez o seu desejo. Quando o nono filho nasceu, SRI SRI LAHIRI BABA manifestou-se no seu corpo etéreo, no quarto da parturiente, salvando assim o filho dela da morte.
A estória narrada por Sri Yukteshwar Giriji- um dos mais avançados discípulos de SRI SRI LAHIRI MAHSAYA – sobre a ressurreição do seu amigo Ram, nos dá um outro exemplo surpreendente dos poderes sobrenaturais do Yogiraj. Quase todo ano, durante um certo período, Sri Yukteshwar Giriji tinha o costume de visitar Benares e ficar um pouco lá. Naquela cidade ele tinha um amigo chamado Ram, também ele discípulo de LAHIRI MAHASAYA. Um dia Ram contraiu cólera asiática. Os médicos o trataram da maneira usual. Sri Yukteswar Giriji ajudava Ram, mas apesar de todo o seu cuidado não havia sinais de melhora nas condições do amigo. Sri Yukteswar Giriji deu estas notícias a SRI SRI LAHIRI BABA, implorando fervorosamente para que curasse Ram, o mais rápido possível. O Yogiraj assegurou-lhe que Ram se restabeleceria muito brevemente, pois os médicos estavam tratando dele. Contudo, o amigo piorava cada vez mais. Os médicos não conseguiam curá-lo e perderam as esperanças. Para Ram não havia mais nada a ser feito. Sri Yukteswar Giriji correu várias vezes para o seu GURU, mas só recebia a mesma resposta:”Ram ficará bem”. Dificilmente Giriji Maharaj podia acreditar naquelas palavras. Retornou e perplexo encontrou Ram no seu leito de morte, sem nenhum sinal de vida. Transtornado pela dor, retornou ao seu GURUDEVA e, com grande emoção, contou que estava tudo acabado. Com o coração imperturbável SRI SRI LAHIRI BABA consolou-o e lhe pediu que meditasse um pouco. Seria possível acalmar a mente e meditar sentindo angústia e dor ? Contudo, atendendo à solicitação do divino SRIGURU, Sri Yukteshwar Maharaj se empenhou em meditar. Após algumas horas LAHIRI BABA deu-lhe um frasco com óleo de NEM, dizendo-lhe: “Agora vá e coloque sete gotas do óleo deste frasco na boca de Ram”. Como se estivesse sendo guiado por um vento mágico, Sri Yukteswar voltou correndo e abriu a boca já fria de Ram e pingou sete gotas de óleo de NEEM. Logo que pingou o óleo, o corpo inanimado de Ram começou a palpitar. Rapidamente Ram sentou-se na cama. E não só isso, depois de alguns minutos começou a andar indo diretamente ao encontro do seu divino GURUDEVA. Devido à esta extraordinária experiência, percebendo a imaculada grandeza dos poderes sobrenaturais do divino GURUDEVA – Yogiraj Yogavatar SRI SRI SHYAMACHARAN LAHIRI MAHASAYA – os devotos e os discípulos ficaram completamente fora de si devido à surpresa. Infinita é a glória dos poderes sobrenaturais da yoga52. Por mais inacreditável que possa parecer, isto é verdade como a luz vem do sol. A vinda a este mundo do Yogiraj SRI SRI LAHIRI MAHASAYA e dos grandes santos como ele, acontece apenas para manifestar, de forma evidente, a grandeza do onipotente, onisciente Senhor Supremo do universo.