segunda-feira, 13 de abril de 2009
A Arte do Silêncio Por Paramahamsa Prajnanananda
O rosto é o reflexo da pessoa. As palavras são o reflexo de sua educação. Quando alguém come alho e fala, o cheiro do alho é exalado. Do mesmo modo, quando expressamos nossos sentimentos, eles se exteriorizam. As pessoas podem ser facilmente analisadas pelas suas próprias palavras.
Você deve lembrar-se da história que eu contei recentemente sobre como uma pessoa pode tornar-se sábia sem falar. Aconteceu há aproximadamente 1800 anos, na Índia. Havia uma princesa que era muito sábia, inteligente, educada e em plena juventude, pronta para casar-se. Ela impôs uma condição para o seu casamento: “aquele que for mais inteligente que eu será o meu marido.” Muitas pessoas vieram, mas foram recusadas durante a conversa com a jovem. Ela permanecia solteira e os pais estavam preocupados. Aqueles que eram descartados sentiam-se humilhados e insultados. Os pais tentaram, então, enganar a inteligente jovem. Eles planejaram encontrar um homem tolo e o apresentariam à jovem, dizendo que ele era o homem mais sábio de todos. Eles começaram a procurar pelo homem tolo e finalmente encontraram. Havia um jovem sentado no galho de uma árvore, cortando com um machado a base do galho. Vendo aquilo, pensaram “Oh Deus! Ele é realmente um tolo! Ele está sentado no galho e está cortando a sua base.” Pediram então que ele descesse.
Disseram, “Queremos que você faça uma coisa para nós.”
“O que?”, ele perguntou.
“Nós temos um plano. Nele você poderá casar-se com uma bela princesa, mas é preciso que você não abra a boca em momento algum. Nós diremos a ela que você é um guru, o homem mais sábio de todos.”
Como ele era um tolo, acreditou neles. Levaram, então, o homem até a princesa. Havia uma cortina fina e transparente entre a jovem e o rapaz. Ele foi instruido a não falar, mas poderia fazer sinais com a cabeça e com as mãos.
A jovem mostrou-lhe um dedo (o indicador), pensando “Deus é único.” O rapaz pensou que ela havia mostrado o dedo querendo dizer “Vou enfiar o dedo no seu olho.” Ele pensou, “Garota tola! Se você enfiar um dedo no meu olho, vou enfiar dois dedos nos seus olhos.” E ele mostrou dois dedos. A jovem pensou que o rapaz foi inteligente. Ela disse “Deus é único”, e ele respondeu que, mesmo Deus sendo único, Deus e a criação tornaram-se dois. Deus sem a criação não é compreensível. Então ela imaginou que, ao mostrar dois dedos, ele quis dizer que purusha e prakriti (Deus imanifesto e a natureza) são dois. Então a jovem mostrou três dedos, pensando que a natureza possui três qualidades, que a criação possui três períodos de tempo e que a pessoa possui três corpos. O jovem pensou, “Essa menina é perigosa. Eu disse a ela que eu enfiaria dois dedos nos seus olhos e ele está dizendo que enfiará dois dedos nos meus olhos e um na minha orelha.” O rapaz mostrou quatro dedos, pensando que que iria enfiar também os dedos nas duas orelhas. A jovem pensou que o que ele dizia era que nada daquilo era novo, pois já foi dito nos quatro Vedas.
Agora a jovem mostrou a ele cinco dedos, indicando que apesar da Verdade estar presente nas escrituras e poder ser ensinada através de um professor, os cinco órgãos dos sentidos são obstáculos. O rapaz achou que ela pretendia dar um tapa nele. Então pensou, “Se você me der um tapa, eu vou te dar um soco.” E ele mostrou o punho fechado. A jovem pensou que apesar de os quatro órgãos dos sentidos serem obstáculos, o homem sábio os controlava. Então ela decidiu, “Este homem é o mais sábio, quero casar-me com ele.” O casamento foi então consumado. Mas o homem tolo não conseguiu manter o silêncio. Na primeira noite, quando estavam juntos no quarto, um animal uivou e a princesa perguntou “o que é isso?” Então ele abriu a boca e começaram os problemas.
A maioria dos problemas da vida começam quando abrimos nossas bocas. Enquanto não abrimos a boca, estamos seguros. Muitos santos na Índia acreditam que não há necessidade de falar, então eles não falam. Se você quer falar, precisa conhecer muitas coisas. Se você não fala, não há necessidade de saber nada. Sente-se em silêncio. Seja feliz. Fazer silêncio não é apenas uma arte na espiritualidade, é uma arte para uma vida bem sucedida. O silêncio é de dois tipos. Um é o silêncio externo, que significa não falar.
O exemplo seguinte ilustra o segundo tipo de silêncio. Um jovem foi até o seu professor e pediu para seguir uma disciplina espiritual. O professor disse, “Vou ensinar a você quando se deve parar de falar.”
Ele disse, “Mas eu não estou falando.”
E o professor então disse, “Sente-se. Feche os olhos e veja o que está acontecendo.”
O jovem observou que vários pensamentos estavam surgindo.
Então o professor disse ao jovem, “Olhe para mim. Você não está falando?”
E ele respondeu, “Sim.”
Então o professor disse, “Vou ensinar a você como parar de falar.”
O estudtante fechou os olhos e tentou ir além dos pensamentos.
Esse é o segundo tipo de silêncio – parar de ter pensamentos na mente.
Para alcançar o aspecto mais elevado do silêncio, para ter controle sobre os pensamentos, devemos primeiramente praticar o primeiro aspecto, o de não falar. Como eu disse anteriormente, podemos ter algum tempo reservado em nosso dia para não falar. Pode ser um pouco difícil no início, mas não é impossível. Fique em silêncio algumas horas todos os dias ou ao menos uma vez por semana. Sempre que você estiver no ashram pode ficar em silêncio.
Existem dois tipos de práticas espirituais. Uma é a prática em grupo e a outra é a prática individual. Na prática em grupo, nós sentamos juntos, ouvimos palestras, meditamos, comemos e assim por diante. Se você está no ashram e realmente quer ficar em silêncio, então fique em silêncio; ninguém irá atrapalhá-lo. É uma oportunidade. Obtenha disciplina através da compreensão, assim a vida será mais bonita.
Contemplemos. A vida é um presente de Deus. Devemos utilizar esse presente da melhor forma possível. Para aumentar a produtividade na vida, fique em silêncio. Aqueles que falam muito, trabalham pouco. Busque a auto-disciplina. Ela começa com o silêncio na vida:
Não falar desnecessariamente.
Falar de forma consciente e cuidadosa.
Falar quando for necessário.
Todos os dias, fique em silêncio durante determinado tempo.
Quando ficamos em silêncio, observamos a agitação da mente, como a mente está se movendo.
Uma vez por semana, fique em silêncio por um período de tempo maior.
Quando estiver em companhias espirituais no ashram, tente ficar em silêncio por mais tempo. Falando muito, perdemos muita energia.
Tente conservar sua energia e levar mais paz para a sua vida.
A mente silenciosa é a mente mais poderosa.
Que Deus e os mestres abençoem todos vocês.
OM! Amém!
Fonte: http://www.kriya.org.br/soulculture/vol_16_2/05-Art-of-Silence.html
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