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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vivekananda - 2) A Meditação e Seus Métodos


SWAMI VIVEKANANDA

A MEDITAÇÃO E SEUS MÉTODOS

Editado por Swami Chetanananda




(continuação...)





OS OITO RAMOS DO YOGA


A Raja-Ioga é conhecida como a Ioga óctupla, porque se divide em oito partes principais.

São elas:

1ª) YAMA. É a mais importante e tem de governar toda a vida. Tem cinco divisões:

a) Não prejudicar nenhum ser por pensamentos, palavras ou atos.

b) Não cobiçar ardentemente, em pensamentos, palavras ou atos.

c) Perfeita castidade em pensamentos, palavras ou atos.

d) Sinceridade perfeita em pensamentos, palavras ou atos.

e) Não receber presentes.

2ª) NIYAMA. Cuidados com o corpo, banhos diários, dietas, etc.

3ª) ASANA, posturas. Os quadris, os ombros e a cabeça devem ser mantidos eretos, deixando livre a espinha dorsal.

4ª) PRANAYAMA, controle da respiração (a fim de controlar o Prana ou força vital).

5ª) PRATYAHARA, volver a mente para o interior e impedi-la de ir para fora, revolvendo as questões na mente a fim de compreendê-las.

6ª) DHARANA, a concentração em um assunto.

7ª) DHYANA, meditação.

8ª) SAMADHI, iluminação, a meta de todos os nossos esforços.


Aquele que busca chegar até Deus através da Raja-Ioga deve ser forte mentalmente, fisicamente, moralmente e espiritualmente. Tome todas as providências nesse sentido. (VIII, 41,44)




NO LIMIAR


Esta é uma lição que visa trazer à luz a individualidade. Cada individualidade deve ser cultivada. Todas se encontrarão no centro. "A imaginação é a porta para a inspiração e a base de todo pensamento." Todos os profetas, poetas e descobridores tiveram grande poder imaginativo. A explicação da natureza está em nós; a pedra cai do lado de fora, mas a gravitação está em nós, e não no exterior.

Aqueles que se enchem de comida, aqueles que passam fome, aqueles que dormem demais, aqueles que dormem muito pouco, não podem se tornar Iogues. A ignorância, o egoísmo, a volubilidade, a preguiça e o apego excessivo são os grandes inimigos do sucesso da prática da Ioga. Os três grandes requisitos são:

1º) PUREZA, física e mental; tudo que for impuro, tudo que arrastar a mente para baixo, deve ser abandonado.

2º) PACIÊNCIA. De início haverá maravilhosas manifestações, mas todas cessarão. Este é o período mais duro, mas agüente; no final, o ganho será certo se você tiver paciência.

3º) PERSEVERANÇA. Persevere até o fim, através da saúde e da doença, nunca deixe de praticar um dia sequer. (VIII. 38)



A MENTE E SEUS ASPECTOS


A mente ou órgão interno tem quatro aspectos:


1º) MANAS, a faculdade de raciocinar ou pensar, que, usualmente, é quase inteiramente desperdiçada, por falta de controle; governada apropriadamente, é um maravilhoso poder.

2º) BUDDI, a vontade (algumas vezes chamada de intelecto).

3º) AHAMKARA, o egotismo auto-consciente (de Aham).

4º) CHITTA, a substância em que e através da qual todas as faculdades agem, como se fosse o chão da mente; ou o mar do qual as várias faculdades são ondas.


A Ioga é a ciência pela qual impedimos que Chitta assuma ou se transforme em várias faculdades. Assim como a imagem da lua no mar é quebrada ou deformada pelas ondas, da mesma forma o reflexo de Atman, o verdadeiro Eu, é quebrado pelas ondas mentais. Somente quando o mar consegue atingir a calma de um espelho, pode o reflexo da lua ser visto e somente quando o "recheio da mente", Chitta, atinge a calma absoluta, pode o Eu ser reconhecido. (VIII. 39-40)



MEDITE EM SILÊNCIO


É impossível encontrar Deus fora de nós mesmos. Nossas próprias almas contribuem para toda divindade que existe fora de nós. Nós somos o maior dos templos. A objetivação é somente uma pálida imitação do que podemos ver dentro de nós mesmos.

A concentração dos poderes da mente é o nosso único instrumento para nos ajudar a encontrar Deus. Se você conhecer uma alma (a sua própria), você conhecerá todas as almas, passadas, presentes e as que virão. A mente concentrada é uma lâmpada que ilumina cada canto da alma.


A Verdade não pode ser parcial; existe para o bem de todos. Finalmente, em perfeito repouso e paz, medite sobre Ela, concentre sua mente Nela, torne-se uno com Ela. Então, nenhuma palavra será necessária; o silêncio trará a Verdade. Não gaste sua energia tagarelando, mas medite em silêncio; e não deixe o burburinho do mundo exterior perturbá-lo. Quando sua mente alcança o estado mais elevado, você fica inconsciente disso. Acumule energia em silêncio e torne-se um dínamo de espiritualidade. (VII. 59-61)



MEDITAÇÃO SEGUNDO A VEDANTA


A primeira noite de Swamiji no Acampamento Taylor (Norte da Califórnia), 2 de Maio de 1900. Eu cerro meus olhos e o vejo de pé na mansa escuridão, entre fagulhas que saltam do ardente fogo da fogueira, com a lua de um dia brilhando no alto. Ele estava desgastado depois de uma longa temporada de conferências, mas relaxado e feliz por estar ali. "Nós encerramos nossa vida na floresta", disse ele, "assim como a começamos, mas com um mundo de experiências entre os dois estados." Mais tarde, depois de uma curta conversa, quando íamos começar a costumeira meditação, ele falou: "Você deve meditar no que quiser, mas eu irei meditar sobre o coração de um leão. Isto traz força." A bênção, o poder e a paz da meditação que se seguiu não poderiam jamais ser descritos.


(Lembranças de Swami Vivekananda: Ida Ansell)



POR QUE DEUS?


Já me perguntaram muitas vezes: "Por que você usa aquela velha palavra, Deus?" Porque é

a melhor palavra para o nosso objetivo; você não pode encontrar melhor palavra que esta, porque todas as esperanças, aspirações e felicidade da humanidade têm sido centralizadas naquela palavra. É agora impossível mudar tal palavra. Palavras como esta foram primeiramente cunhadas por grandes santos que verificaram sua importância e compreenderam seu significado. Mas, quando se tornam comuns na sociedade, os ignorantes se apossam dessas palavras e o resultado é que elas perdem seu espírito e sua glória. A palavra Deus tem sido usada desde tempos imemoriais e a idéia desta inteligência cósmica e de tudo que é grandioso e sagrado, se associa a ela. Você acha que, porque alguns tolos dizem que não está certo, deveríamos desprezá-la? Algum outro homem pode chegar dizendo "Use esta palavra" e ainda outro "Utilize tal palavra". Assim não haverá fim para palavras tolas. Use a velha palavra, use-a somente no verdadeiro sentido, limpe-a de toda superstição e tenha plena consciência do que significa esta grande e antiga palavra. (II. 210).




A CONCEPÇÃO VEDÂNTICA DE DEUS


O que é o Deus da Vedanta? Ele é um princípio, não uma pessoa. Você e eu somos todos Deuses Pessoais. O Deus absoluto do Universo, o criador, preservador e destruidor do Universo, é um princípio impessoal. Você e eu, o gato, o rato, o diabo e o fantasma, todos somos Seus personagens - todos somos Deuses Pessoais. Você quer cultuar Deuses Pessoais. É o culto do seu próprio eu. Se você aceitar meu conselho, nunca entrará em nenhuma igreja. Saia e vá lavar-se. Lave-se, repetidamente, até ficar limpo de todas as superstições que grudaram em você, através dos tempos.

Perguntaram-me muitas vezes: "Por que você ri tanto e diz tantas piadas?" Eu fico sério, às vezes - quando tenho dor de estômago! O Senhor é felicidade plena. Ele é a realidade atrás de tudo que existe, Ele é o bem, a verdade em tudo. Vocês são Suas encarnações.

Isto é que é glorioso. Quanto mais perto você estiver Dele, menos oportunidade terá de chorar ou soluçar. Quanto mais se afastar Dele, mais desventuras surgirão. Quanto mais O conhecermos, tanto mais as angústias desaparecerão.


Deus é o ser impessoal, infinito - o sempre existente, imutável, imortal, destemido; e vocês todos são Suas encarnações. Este é o Deus da Vedanta e Seu céu está em todo lugar. (VIII. 133-34)




A META E OS MÉTODOS DE REALIZAÇÃO


Assim como toda ciência tem seus métodos, o mesmo acontece com cada religião. Os métodos para alcançar o objetivo da religião são chamados por nós de Ioga e as diferentes formas de Ioga que ensinamos, são adaptadas às diferentes naturezas e temperamentos dos homens. Classificamo-las da seguinte maneira, em quatro grupos:

1 - KARMA-IOGA: A maneira pela qual o homem realiza sua própria divindade através do trabalho e do dever.

2 - BHAKTI-IOGA: A realização da divindade através da devoção e do amor de um Deus Pessoal.

3 - RAJA-IOGA: A realização da divindade pelo controle da mente.

4 - JNANA-IOGA: A realização da própria divindade do homem através do conhecimento.


Estas são as diferentes estradas que vão ao mesmo centro - Deus. (V. 292)



ORE PELA ILUMINAÇÃO


Ore pela iluminação:

"Eu medito na glória daquele Ser que criou este universo; que Ele ilumine minha mente."

Sente-se e medite sobre isto durante dez ou quinze minutos.

Não conte suas experiências a ninguém, a não ser seu Guru.

Fale o menos possível.

Mantenha seus pensamentos em coisas virtuosas; nos transformamos naquilo em que pensamos.

A meditação em coisas puras, nos ajuda a queimar todas as nossas impurezas mentais.

(VIII. 39)



O DESPERTAR DA HIPNOSE


A meditação foi sempre enfatizada por todas as religiões. Segundo os Iogues o estado meditativo da mente é o estado mais elevado em que ela existe. Quando a mente está estudando um objeto externo, identifica-se com ele e se perde. Para usar a comparação do velho filósofo hindu: a alma do homem é como um pedaço de cristal, mas assume a cor de tudo que está próximo a ela. De tudo que a alma toque... retira sua cor.

Esta é a dificuldade. Aí está a escravidão. A cor é tão forte que o cristal esquece-se de si mesmo e se identifica com a cor. Suponha que uma flor vermelha esteja junto do cristal e que o cristal absorva a cor, esqueça-se de si mesmo e pense que é vermelho. Nós todos assumimos a cor do corpo e esquecemos quem somos. Todos nossos temores, todas preocupações, ansiedades, dificuldades, enganos, fraquezas, o mal, derivam daquele grande erro crasso - que somos corpos materiais.


A prática da meditação prossegue. O cristal sabe o que é, adquire sua própria cor. É a meditação que nos leva mais perto da verdade do que qualquer outra coisa. (IV. 227)




AQUI E AGORA


Não espere até conseguir uma harpa para descansar, passo a passo; por que não pegar uma harpa e começar aqui? Por que esperar pelo céu? Faça-o aqui.


Como podemos entender que Moisés viu Deus, a menos que O vejamos? Se Deus alguma vez veio para alguém, Ele virá até mim. Eu irei diretamente até Deus; que Ele fale comigo. Não posso me basear na crença; isto é ateísmo e blasfêmia. Se Deus falou com um homem nos desertos da Arábia, há dois mil anos, Ele também pode falar comigo hoje, se não fizer isto como saberei que Ele não morreu? Vá até Deus de toda maneira que puder; apenas vá. Mas, quando for, não prejudique a ninguém. (VII. 93,97)




UMA CANÇÃO DE NINAR INDIANA


Era uma vez uma rainha hindu, que desejava tão ardentemente que todos os seus filhos conseguissem a libertação nesta vida, que ela mesma cuidava deles todos; quando os embalava para dormir, ela sempre cantava a mesma canção - "Tat tvam asi, Tat tvam asi" ("Isto sois Vós, isto sois Vós").

Três deles tornaram-se Sannyasins (monges), mas o quarto foi levado para ser educado para tornar-se um rei, noutro lugar. Ao partir, sua mãe deu-lhe uma folha de papel que ele deveria ler somente quando atingisse a maioridade. Naquela folha estava escrito: "Somente Deus é verdadeiro. Tudo o mais é falso. A alma nunca mata ou é morta. Viva sozinho ou na companhia de pessoas puras." Quando o jovem príncipe leu isso, ele também renunciou ao mundo imediatamente e tornou-se um Sannyasin. (VII 89-90)




A FÁBULA DOS DOIS PÁSSAROS


Toda a filosofia da Vedanta está contida nesta história:

Dois pássaros de plumagem dourada pousaram na mesma árvore. O que estava no alto era sereno, majestoso, imerso em sua própria glória; o que estava mais abaixo era inquieto e comia os frutos da árvore, ora doces, ora amargos. Certa vez ele comeu um fruto excepcionalmente amargo e olhou para o majestoso pássaro do alto; mas logo esqueceu-se do outro pássaro e prosseguiu comendo os frutos da árvore, como antes. Comeu, de novo, um fruto amargo, e, desta vez, alçou-se para um pouco mais perto do pássaro do topo. Isto aconteceu muitas vezes até que, finalmente, o pássaro que estava embaixo veio até o lugar do pássaro de cima e perdeu sua identidade. Ele compreendeu, subitamente, que nunca houvera dois pássaros, e que ele fora, durante todo o tempo, aquele pássaro de cima, sereno, majestoso e imerso em sua própria glória. (VII. 80)



SEJA GRATO!


Seja grato para com aquele que o amaldiçoa, pois ele lhe dá um espelho para você ver o que é a maldição, e também uma oportunidade para praticar o auto-controle; assim, abençoe-o e fique feliz. Sem o exercício, a força não pode surgir; sem o espelho, não podemos ver a nós mesmos.

Os anjos nunca fazem coisas perversas, assim nunca são punidos e nunca são salvos. São os golpes que nos acordam e nos ajudam a desfazer o sonho. Eles nos mostram a precariedade deste mundo e nos fazem ansiar para escaparmos, para nos libertarmos. (VII. 69, 79)




DA SOLIDÃO PARA A SOCIEDADE


Swamiji: Shankara deixou esta filosofia Advaita (não dualística) nas montanhas e florestas, enquanto eu vim para retirá-la daqueles lugares e espalhá-la pelo mundo do trabalho e pela sociedade. O urro do leão da Advaita deve ressoar em cada lar, nos prados e vales, sobre as montanhas e planícies. Venham todos auxiliar-me e comecem a trabalhar.

Discípulo: Senhor, a mim me agrada mais alcançar aquele estado através da meditação do que manifestá-lo pela ação.

Swamiji: Este não é senão um estado de estupefação, como o produzido pelo álcool. De que servirá permanecer, meramente, nesse estado? Pressionado pela ânsia da realização da Advaita, você terá, às vezes, de dançar freneticamente e às vezes ficará alheio aos sentidos exteriores. A gente se sente feliz ao saborear uma coisa boa, isoladamente? Devemos compartilhá-la com os outros! Admitindo-se que você alcançou a libertação pessoal através da realização do Advaita, que vantagem haverá para o mundo? Você deve libertar o universo inteiro antes de abandonar seu corpo físico. Somente então você se identificará com a Verdade Eterna. Há algo que se compare a essa bênção, meu rapaz? (VII. 162-63)



QUEM PODE CONHECER O CONHECEDOR?


Discípulo: Se eu sou Brahman, por que não tenho sempre consciência disso?

Swamiji: Afim de alcançar essa realização no plano consciente, algum instrumento se faz necessário. A mente é esse instrumento em nós. Mas é uma substância não inteligente. Ela somente parece ser inteligente pela luz do Atman que está atrás dela. Portanto, é certo que você não será capaz de conhecer o Atman, a Essência da Inteligência, através da mente. Você terá de ir além da mente. O fato real é que existe um estado além do plano consciente, onde não há dualidade entre o conhecedor, o conhecimento e o instrumento do conhecimento, etc. Quando a mente mergulha profundamente, esse estado é percebido. A linguagem não pode exprimir esse estado. (VII. 141-42)




O QUE EXISTE ALÉM?


Os processos da evolução, combinações cada vez mais elevadas, não existem na alma; ela já é o que é. Eles estão na natureza. Suponha que aqui existe um biombo e que atrás dele há um belo cenário. Há um pequeno furo no biombo através do qual podemos somente captar pequena parte do cenário que fica por detrás. `A medida em que o furo aumentar de tamanho, cada vez mais descortinaremos a cena escondida; e quando o biombo todo desaparecer não haverá nada mais entre você e o cenário; você o verá em sua totalidade. Este biombo é a mente do homem. Atrás dela se esconde a majestade, a pureza, o infinito poder da alma, e quanto mais a mente se tornar clara e pura, tanto mais se manifestará a majestade da alma. Não é que a alma se modifique, mas a mudança é no biombo. A alma é a Unidade Imutável, a imortal, a pura, a sempre-abençoada Unidade. (VI. 24)



SEJA A TESTEMUNHA


Diga, quando a mão do tirano agarrar seu pescoço: "Eu sou a Testemunha! Eu sou a Testemunha!" Diga: "Eu sou o Espírito! Nada do exterior pode tocar-me." Quando maus pensamentos surgirem, repita isto, dê-lhes uma pancada na cabeça: "Eu sou o Espírito! Eu sou a Testemunha, o Abençoado para sempre! Não há razão para que eu faça coisa alguma, não há razão para que eu sofra, estou farto de tudo, eu sou a Testemunha. Estou na minha galeria de quadros - este universo é o meu museu, somente olho essa sucessão de pinturas. Todas são belas, sejam boas ou más. Eu admiro a maravilhosa habilidade, mas é tudo uma coisa só. As infinitas chamas do Grande Pintor!" (V. 254)




NÓS QUEREMOS DEUS?


Perguntemo-nos todos os dias: "Queremos Deus?" Quando começamos a falar de religião e, especialmente, quando assumimos uma posição mais elevada e começamos a ensinar aos outros, devemos nos fazer a mesma pergunta. Às vezes, eu acho que não quero Deus, que quero mais pão. Quase fico louco se não consigo uma fatia de pão; muitas senhoras ficarão doidas se não conseguirem um broche de diamante, mas não têm o mesmo desejo em relação a Deus; elas não conhecem a única Realidade que existe no universo. Em nossa língua há um provérbio: se eu quiser virar um caçador, caçarei rinocerontes; se eu quiser virar ladrão, roubarei o tesouro do rei. Qual a vantagem de roubar mendigos ou caçar formigas? Assim, se você quiser amar, ame a Deus. (IV. 20)



A ALMA E SUA ESCRAVIDÃO


Nós somos o Ser Infinito do universo e ficamos materializados nesses seres pequeninos, homens e mulheres, que dependem da palavra doce de um homem, ou da palavra irada de um outro e assim por diante. Que dependência terrível, que horrível escravidão! Se você belisca meu corpo, sinto dor. Se alguém diz uma palavra carinhosa, fico alegre. Veja minha condição - escravo do corpo, escravo da mente, escravo do mundo, escravo de uma boa palavra, escravo de uma palavra má, escravo da paixão, escravo da felicidade, escravo da morte, escravo de tudo! Esta escravidão tem de ser rompida. Como? Pense sempre: "Eu sou Brahman."

Assim, qual é a meditação do Jnana (seguidor do caminho do conhecimento)? Ele quer erguer-se acima de qualquer idéia do corpo ou da mente, varrer a idéia que é o corpo físico. Para que embelezar o corpo? Para gozar mais uma vez a ilusão? Para continuar a escravidão? Deixe passar, eu não sou o corpo. Esta é a atitude do Jnana. O Bhakta diz: "O Senhor deu-me este corpo para que eu possa atravessar, com segurança, o oceano da vida e devo cuidar dele até que a jornada acabe." O Iogue diz: "Devo ser cuidadoso com o corpo afim de que possa prosseguir com firmeza para alcançar, finalmente, a libertação." (III. 25, 27-28)



É TUDO UMA BRINCADEIRA


É tudo uma encenação. Represente! O Deus Todo Poderoso representa. Você é o Deus Todo Poderoso atuando no palco. Se você quiser representar e fazer o papel de um mendigo, ninguém será responsável por fazer tal escolha. Você gosta de ser o mendigo. Você sabe que sua natureza real é divina. Você é rei e finge que é um mendigo. É tudo uma brincadeira. Saiba disso e represente. Tudo que existe é uma farsa. Represente então. O universo inteiro é uma vasta encenação. Tudo é bom porque é uma brincadeira.

Quando eu era menino, alguém me disse que Deus observa tudo. Quando ia dormir eu olhava para cima e ficava esperando que o teto fosse se abrir. Nada acontecia. Ninguém está nos observando, exceto nós mesmos. Nenhum Senhor, exceto nosso próprio Eu.

Não sofra! Não se arrependa! O que está feito, está feito. Se você se queimar, agüente as conseqüências.

Sejam sensatos. Nós cometemos erros; e daí? É tudo uma brincadeira. As pessoas ficam loucas com seus pecados passados, lamentam-se e choram e assim por diante. Não se arrependam! Após fazer um trabalho, não pensem mais nele. Prossigam! Não parem! Não olhem para trás! O que irão ganhar olhando para trás?

Aquele que sabe que é livre está livre; aquele que sabe que está escravizado, está escravizado. Qual é o fim e o objetivo da vida? Nenhum, pois eu sei que sou o Infinito. Se vocês são mendigos, podem ter metas. Eu não tenho metas, desejos ou propósitos. Eu vim até seu país e dou conferências - por brincadeira. (II. 470-71)

UM SALMO DA VIDA

No gozo existe o medo da doença,

No nascimento opulento, o medo de perder a casta,

Na riqueza, o medo dos tiranos,

Na honra, o medo de perdê-la,

Na força, o medo dos inimigos,

Na beleza, o medo da velhice,

No conhecimento, o medo da derrota,

Na virtude, o medo do escândalo,

No corpo, o medo da morte.

Nesta vida tudo é cercado de medo:

Somente a renúncia é destemida.

(Em Busca de Deus e Outros Poemas, pág. 81)



ENTERRE O PASSADO


Se eu ensinasse a vocês que sua natureza é má, que vocês deveriam ir para casa para se assentarem sobre cinzas e um saco de aniagem e chorarem amargamente porque deram alguns passos em falso, isto não ajudaria a vocês, mas iria enfraquecê-los ainda mais e eu estaria lhes mostrando mais a estrada para o mal do que para o bem. Se este quarto estivesse cheio de trevas há milhares de anos e vocês chegassem e começassem a soluçar e chorar balbuciando: "Oh! escuridão!", as trevas desapareceriam? Risquem um pau de fósforo e a luz chega instantaneamente. De que serviria para vocês pensarem durante toda a vida: "Oh, eu fiz coisas más, cometi muitos erros"? Não é preciso um fantasma para nos dizer isto. Tragam a luz e o mal desaparece subitamente. Edifiquem seus caracteres e manifestem sua natureza real, a Efulgente, a Resplandecente, a Sempre-Pura e A reconheçam em qualquer pessoa que olharem. (II. 357)



O TAJ-MAHAL DOS TEMPLOS


O Deus-Vivo está dentro de vocês e, contudo, vocês constróem igrejas e templos e acreditam em muitas coisas absurdas. O único Deus que deve ser adorado está na alma que reside no corpo humano. Naturalmente, todos os animais são, também, templos, mas o homem é o mais elevado, o Taj-Mahal dos templos. Se não consigo fazer adoração dentro deste templo, nenhum outro templo será de utilidade. Quando eu tiver alcançado Deus dentro do templo de cada ser humano, quando eu ficar em reverência diante de cada ser humano e nele enxergar Deus - nesse momento estarei livre da escravidão, tudo que me prende se desatará e eu estarei livre. (II. 321)




O SENHOR É SEU


Você tem sentimento pelos outros? Se tiver, você estará caminhando para a unidade. Se você não sentir pelos outros, você poderá ser o maior gigante intelectual que já nasceu, mas não será nada; você não será mais do que inteligência seca e assim ficará para sempre. Mas, se você sentir, mesmo não podendo ler nenhum livro, nem falar nenhum idioma, estará no caminho certo. O Senhor será seu.

Você não sabe, através da história do mundo, onde estava o poder dos profetas? Onde estava ele? No intelecto? Algum deles escreveu um esplêndido livro sobre filosofia, sobre os mais complexos raciocínios da lógica? Nenhum deles. Eles somente falaram poucas palavras. Sinta como Cristo e você será um Cristo; sinta como Buda e você será um Buda. É o sentimento que é a vida, a força, a vitalidade, sem a qual quantidade alguma de atividade intelectual poderá alcançar Deus. É através do coração que o Senhor é visto, e não através do intelecto. (II. 307, 306)




NINGUÉM É CULPADO


Não culpem a ninguém por suas próprias faltas, sustenham-se sobre seus próprios pés e assumam toda a responsabilidade sobre vocês mesmos. Digam: "Este sofrimento que estou padecendo foi causado por mim mesmo e isto prova que terá de ser desfeito por mim mesmo." Aquilo que criei posso destruir; aquilo que foi criado por outra pessoa, não conseguirei nunca destruir. Por isso, fique de pé, seja forte, seja valente. Tome toda a responsabilidade sobre seus próprios ombros e saiba que você é o criador de seu próprio destino. Toda a força e auxílio que você precisa, Estão dentro de você mesmo. Portanto, crie o seu próprio futuro. "Que o passado morto enterre seus mortos." O futuro infinito está diante de vocês e vocês devem sempre se lembrar que cada palavra, pensamento e atos, são armazenados para vocês e, assim como os maus pensamentos e más ações estarão prontos para saltar sobre vocês como tigres, assim também a esperança inspiradora de que os bons pensamentos e as boas ações estarão prontos, com o poder de cem mil anjos, para defendê-los, sempre e para todo o sempre. (II. 225)




O MUNDO: NEM BOM, NEM MAU


Se a milionésima parte dos homens e mulheres que vivem neste mundo simplesmente sentassem e dissessem por alguns minutos: "Vocês todos são Deuses, Oh! homens, animais e seres vivos, todos vocês são manifestações da Única Divindade Viva!", o mundo todo seria modificado em meia hora. Em vez de lançar horrendas bombas de ódio em cada canto, em vez de projetar correntes de ciúme e maus pensamentos, em cada país as pessoas irão pensar que Ele está em tudo. Tudo que você vê ou sente é Ele. Como pode você enxergar o mal sem haver o mal dentro de você? Como pode você ver o ladrão, a menos que ele esteja lá, sentado no interior de seu coração? Como ver o assassino, a menos que você seja o próprio assassino? Seja bom e o mal esvanecerá. E assim o universo inteiro será modificado.

Eis outra coisa para ser aprendida. Não podemos, possivelmente, vencer tudo que nos rodeia objetivamente. Não podemos. O peixinho quer fugir de seus inimigos dentro d’água. Como pode fazê-lo? Desenvolvendo asas e tornando-se um passarinho. O peixe não modificou nem a água, nem o ar; a modificação foi em si próprio. A mudança é sempre subjetiva. Através de toda a Evolução você verifica que a conquista da natureza vem pela mudança do indivíduo. Aplique este raciocínio à religião e à moral e verificará que a vitória sobre o mal somente acontece pela modificação do subjetivo. É deste modo que o sistema Advaita obtém toda sua força, no lado subjetivo do homem. Falar do mal e do sofrimento é tolice, porque eles não existem do lado de fora.

Posso parecer ousado ao afirmar que a única religião que concorda e vai um pouco além das pesquisas modernas, em ambas as linhas físicas e morais, é a Advaita, e é por isso que atrai tanto os cientistas modernos. (II. 287, 137-38)



UMA ALEGORIA


Imagine o Eu como sendo o passageiro, e este corpo físico como a carruagem, o intelecto o cocheiro, a mente as rédeas e os sentidos os cavalos. Aquele cujos cavalos são bem domados e cujas rédeas são fortes e bem manejadas pelas mãos do cocheiro (o intelecto), alcança a meta que é o estado Dele, o Onipresente. Mas o homem cujos cavalos (os sentidos) não são controlados, nem as rédeas (a mente) bem manejadas, caminha para a destruição. (II. 169)



A MORALIDADE E A RELIGIÃO


A religião chega quando aquela verdadeira realização em nossa própria alma começa. Isto será a aurora da religião; e somente então seremos seres morais. Presentemente, nós não somos mais morais do que os animais. Somente somos contidos pelos chicotes da sociedade. Se a sociedade nos dissesse, hoje: "Não punirei você, se furtar", nós avançaríamos na propriedade dos outros. É o policial que nos torna seres morais. É a opinião social que nos faz morais e, realmente, somos um pouco melhores que os animais. Compreendemos o quanto disso é verdade no íntimo de nossos corações. Assim, não sejamos hipócritas.

Esta é a palavra de ordem da Vedanta - realize a religião, não adianta nada falar. Mas isto só se faz com grande dificuldade. Ele escondeu-se dentro do átomo, este Antigo Ser que mora no mais íntimo recesso de cada coração humano. Os sábios realizaram-No através do poder de introspecção. (II. 164-65)



VEJA DEUS EM TUDO


Desde minha infância sempre ouvi dizer a respeito de ver Deus em todo lugar e em todas as coisas quando então eu poderia realmente desfrutar o mundo, mas tão logo me misturo nele e dele recebo alguns golpes, a idéia se desfaz. Estou andando na rua, refletindo que Deus está em todos os homens, quando um grandalhão surge, tromba em mim e eu me esborracho na calçada. Então me ergo rapidamente com os punhos cerrados, o sangue sobe-me à cabeça e o pensamento some. Instantaneamente, fiquei louco de raiva. Tudo foi esquecido; em vez de encontrar Deus, eu vi o demônio. Desde que nascemos, disseram-nos para ver Deus em tudo. Toda religião nos ensina para ver a Deus em todas as coisas e lugares.

Não importam os erros; essas falhas são totalmente naturais, são a beleza da vida. O que seria da vida sem elas? A vida não teria valor se não houvesse as lutas. Onde estaria a poesia da vida? Não importam as lutas, os erros. Nunca ouvi uma vaca dizer uma mentira, mas é somente uma vaca - nunca um homem. Assim, não importam essas falhas, esses pequenos deslizes; apegue-se ao ideal por mil vezes e, se você falhar por mil vezes, faça ainda mais uma tentativa. O ideal do homem é ver a Deus em tudo. (II. 151-52)



EM DIREÇÃO À META SUPREMA


Se o homem mergulhou de cabeça nos fúteis luxos do mundo, sem conhecer a verdade, ele perdeu a caminhada, não pôde alcançar a meta. E se um homem amaldiçoa o mundo, penetra na floresta, mortifica sua carne e se mata pouco a pouco pela fome, desperdiça seu coração, mata todos os sentimentos e torna-se empedernido, duro e seco, este homem também perdeu sua jornada. Esses são os dois extremos, os dois erros de cada lado. Ambos perderam o caminho, ambos perderam o alvo.

Infelizmente, nesta vida, a grande maioria das pessoas está se arrastando através desta vida de trevas, sem nenhum ideal. Se um homem que tem um ideal comete mil erros, estou certo de que o outro sem ideal cometerá cinqüenta mil. Portanto, é melhor ter um ideal. E devemos dar ouvidos a este ideal o máximo possível, até que ele penetre em nosso cérebro, em nossas próprias veias, até que se misture a cada gota de nosso sangue. Devemos meditar sobre isto. "A boca fala através da plenitude do coração" e pela plenitude do coração a mão também trabalha. (II. 150, 152)



O QUE NOS FAZ SOFRER?


A causa de todas as angústias que sofremos é o desejo. Você deseja algo e o desejo não se cumpre; e o resultado é o sofrimento. Se não houver desejo, não haverá sofrimento. Mas também aqui o risco de eu ser mal compreendido. Assim, é necessário que eu explique qual o significado de renunciar ao desejo e de tornar-se liberto de todo sofrimento. As paredes não têm desejos e nunca sofrem. É verdade, porém nunca evoluem. Esta cadeira não tem desejos e nunca sofre; mas é sempre uma cadeira. Há glória na felicidade, há também glória no sofrimento.

Quanto a mim, estou contente por ter feito algumas coisas boas e muitas coisas más; contente por ter feito algo de bom e contente por ter cometido muitos erros, porque cada um deles foi uma grande lição. E o que sou agora é o resultado de tudo o que fiz, de tudo que pensei. Cada ação e pensamento tem seu efeito e esses efeitos são a soma total do meu progresso.

A solução é esta: não que eu não deva ter propriedades, não que eu não deva ter coisas que são necessárias e coisas que constituam mesmo um luxo. Tenha tudo que quiser e mesmo mais, porém conheça a verdade e a realize. A riqueza não pertence a ninguém. Não tenha idéias sobre propriedades e posses. Tudo pertence ao Senhor. (II. 147-48)




A QUINTESSÊNCIA DA VEDANTA


Aqui posso somente explicar-lhes que o que a Vedanta busca ensinar é a divinização do mundo. Em verdade, a Vedanta não acusa o mundo. Em lugar algum o ideal da renúncia atinge tal altura como nos ensinamentos da Vedanta. Mas, ao mesmo tempo, não a intenção de se dar um seco conselho para o suicídio; o ideal realmente quer dizer divinização do mundo - renunciar ao mundo como o imaginamos, como o conhecemos, como ele aparece para nós - e saber o que ele efetivamente é. Divinize-o; ele é Deus somente. Lemos no início de um dos mais antigos dos Upanishads: "Tudo que existe neste universo deve ser coberto por Deus".

Devemos ver tudo coberto pelo Próprio Deus, não por uma falsa espécie de otimismo, não tornando nossos olhos cegos para o mal, mas realmente enxergando Deus em todas as coisas. Temos assim de renunciar ao mundo, e, quando renunciamos ao mundo, o que resta? Deus. O que isto quer dizer? Você pode ter sua esposa; não significa que você deva abandoná-la, mas que você deve ver Deus nela. Renuncie a seus filhos; o que significa isto? Expulsá-los porta afora, como alguns brutos o fazem, em muitos países? Certamente não. Mas veja Deus em seus filhos. E também assim, em tudo. Na vida e na morte, na felicidade e no infortúnio, o Senhor está igualmente presente. O mundo todo está pleno do Senhor. Abra seus olhos e veja-O. Eis o que a Vedanta ensina.

Em verdade, uma tremenda afirmação! Contudo, este é o tema que a Vedanta quer demonstrar, ensinar e pregar. (II. 146-47)



POR QUE CHORAIS, MEU AMIGO?


"Por que chorais, meu amigo? Não há nem nascimento nem morte para vós! Por que chorais? Não há doçura nem sofrimento para vós, mas sois o céu infinito; nuvens de várias cores vêm sobre ele, brincam por um momento e se esvaem. Mas o céu conserva sempre o mesmo azul eterno." Por que enxergamos a malvadez? Havia um toco de árvore e, na escuridão, um ladrão se aproximou e disse: "É um policial". Um jovem que esperava por sua amada olhou-o e pensou que fosse sua namorada. Um menino, que ouvia estórias de fantasmas, tomou-o por um fantasma e começou a tremer. Mas, durante todo esse tempo, era somente um tronco de árvore. Vemos o mundo da maneira que somos.

Não fale da malvadez do mundo e de todos os seus pecados. Chore porque você está inclinado a ver o pecado por todo lugar e, se quiser ajudar o mundo, não o condene. Não o enfraqueça ainda mais. O que é o pecado, o que é o sofrimento, o que são ambos senão resultados da fraqueza? O mundo a cada dia se enfraquece por tais ensinamentos. Desde a infância ensinam aos homens que eles são fracos e pecadores. Ensine a eles que são todos filhos gloriosos da imortalidade, mesmo a aqueles que são, manifestamente, os mais fracos. Que os pensamentos fortes, positivos, os que ajudam, entrem em seus cérebros desde a mais tenra infância. (II. 86-87)



A ARMADILHA DE MAYA


Certa vez, Narada (um grande sábio) disse a Krishna: "Senhor, mostre-me Maya (Ilusão Cósmica)". Alguns dias se passaram e Krishna convidou Narada para um passeio pelo deserto e, depois de andarem algumas milhas, Krishna disse: "Narada, estou com sede; você pode trazer-me um pouco d'água?" "Partirei imediatamente, senhor, para buscar sua água." Assim, Narada partiu.

Não muito longe havia uma aldeia; entrou nela à procura de água e bateu numa porta, que foi aberta por uma linda mocinha. Ao vê-la, ele se esqueceu, imediatamente, que seu Mestre esperava pela água, talvez morrendo de sede. Esqueceu tudo e começou a conversar com a moça. Decorrido o dia todo, ele não voltou ao seu Mestre. No dia seguinte, lá estava ele de novo a conversar com a mocinha. A conversa transformou-se em amor; ele pediu a garota em casamento e eles se casaram e tiveram filhos. Passaram-se assim doze anos. Seu sogro faleceu e ele herdou sua propriedade. Vivia, como pensava, uma vida muito feliz com sua esposa e filhos, com seus campos e o gado e assim por diante. Então, houve uma enchente. Certa noite, o rio encheu-se até transbordar e inundar toda a aldeia. As casas caíram, homens e animais foram arrastados e afogados e tudo flutuava na violência da torrente. Narada teve de fugir. Com uma das mãos segurava sua mulher e com a outra dois de seus filhos; outro filho estava em seus ombros e ele tentava atravessar aquela tremenda inundação. Após dar alguns passos, viu que a corrente estava forte demais e a criança que estava em seus ombros caiu e foi carregada pelas águas. Narada soltou um grito de desespero. Ao tentar salvar a criança, largou uma das outras, que também se perdeu. Finalmente, sua mulher, que ele agarrara com toda sua força, foi arrebatada pela torrente e ele foi arremessado às margens, chorando e soluçando com amargas lamentações.

Atrás dele surgiu uma voz delicada: "Meu filho, onde está a água? Você foi procurar um bocado d’água e estou esperando por você. Já faz meia-hora que você partiu." "Meia-hora!", exclamou Narada. Doze anos tinham se passado em sua mente e todas essas cenas aconteceram em meia hora! É isto que é Maya. (II. 120-21)




A VIDA INSPIRA A VIDA


Chega um homem; você sabe que ele é muito instruído, sua linguagem é bela e ele lhe fala por muito tempo; mas não lhe causa nenhuma impressão. Vem outro homem, fala poucas palavras, não bem arrumadas, talvez ferindo a gramática; contudo, causa-lhe ótima impressão. Muitos de vocês já viram isto. Assim torna-se evidente que somente as palavras não podem sempre produzir boa impressão. As palavras e mesmo os pensamentos contribuem somente com uma terça parte para causarem boa impressão e o homem, com dois terços. O que vocês chamam de magnetismo pessoal do homem - é isto que sai e impressiona a vocês. Voltando aos grandes líderes da humanidade, sempre verificamos que foi a personalidade do homem que valeu. Agora, considere todos os grandes autores do passado, os grandes pensadores. Falando realmente, quantos pensamentos pensaram eles? Considere todos os escritos que nos foram deixados pelos antigos líderes da raça humana; pegue cada um de seus livros e os avalie. Os pensamentos reais, novos e genuínos, que foram elaborados neste mundo até hoje não enchem uma de nossas mãos. Leia em seus livros os pensamentos que nos deixaram. Os autores não nos aparecem como gigantes e, contudo, sabemos que foram gigantes no seu tempo. O que os fez assim? Não simplesmente os pensamentos que emitiram, nem os livros que escreveram, nem os discursos que fizeram, era algo mais que agora se perdeu, isto é, sua personalidade. Como eu já comentei, a personalidade do homem representa dois terços e seu intelecto, suas palavras, somente um terço. É o homem real, a personalidade do homem, que nos impressiona. (II. 14-15)




AUDÁCIA ESPIRITUAL


Na Rebelião de 1857 (o primeiro movimento de libertação da Índia) havia um Swami, verdadeiramente uma grande alma, a quem um rebelde maometano apunhalou gravemente. Os rebeldes hindus capturaram-no e levaram o homem até o Swami, dizendo que o poderiam matar. Mas o Swami olhou para ele calmamente e disse: "Meu irmão, tu és Ele, tu és Ele" e expirou.

Ergam-se, homens e mulheres, com este mesmo espírito, atrevam-se a acreditar na Verdade, atrevam-se a praticar a Verdade. O mundo necessita de algumas centenas de homens e mulheres audazes. Pratiquem aquela audácia que se atreve a conhecer a Verdade, que se atreve a mostrar a Verdade na vida, que não treme diante da morte e em vez disso a saúda, aquela audácia que faz o homem saber que ele é o Espírito e que, em todo o universo, nada pode matá-lo. então vocês estarão libertos. então conhecerão Sua Alma Real. "Este Atman deve ser primeiro ouvido, depois cogitado em nossos pensamentos e, afinal, submetido à meditações." (II. 85)



UM FIO DE PALHA


Em alguns moinhos de óleo na Índia, bois são usados para andarem circularmente moendo as sementes que darão o óleo. uma cangalha sobre o pescoço do boi. Há uma peça de madeira que se projeta da cangalha, onde é fixado um fio de palha. Os olhos do boi são tapados de tal maneira que pode enxergar somente a palha na frente e, assim, estica seu pescoço para pegar a palha; ao fazer isso, ele movimenta um pouco o moinho de madeira; e faz outra tentativa com o mesmo resultado, e ainda outra tentativa e assim sucessivamente. Ele nunca pega a palha, mas vai rodando e rodando na esperança de pegá-la e, ao fazê-lo, acaba moendo o óleo. Da mesma forma, você e eu nascemos escravos da natureza, do dinheiro e das riquezas, das esposas e dos filhos, e estamos sempre perseguindo um fio de palha, uma mera quimera e iremos atravessar uma inumerável ronda de vidas sem obtermos o que buscamos.

Tal é a história da vida de cada um de nós; tal é o tremendo poder da natureza sobre nós. Ela está sempre nos repelindo para longe, mas, ainda assim, a perseguimos com febril excitação. (I. 408-409)



O AMOR DURA PARA SEMPRE


Diga dia e noite: "Vós sois meu pai, minha mãe, meu marido, meu amor, meu senhor, meu Deus - não quero nada além de Vós, nada além de Vós, nada além de Vós." A riqueza passa, a beleza se esvanece, a vida voa, os poderes voam - mas o Senhor dura para sempre, o amor dura para sempre.

Apegue-se a Deus! O que importa o que acontece com o corpo ou com qualquer outra coisa! Através dos terrores do mal, diga: Meu Deus, meu amor! Através dos sofrimentos da morte, diga: Meu Deus, meu amor! Através de todos os males, sob o sol, diga: Meu Deus, meu amor!

Esta vida é uma grande chance. Por que procurais os prazeres do mundo? Ele é a fonte de toda bem-aventurança. Busque o mais alto, vise o mais elevado e você irá alcançar o mais alto. (VI. 262)



O HOMEM, FAZEDOR DE SEU DESTINO


Os homens fracos, quando perdem tudo e sentem-se enfraquecidos, tentam toda espécie de disparatados métodos de fazer dinheiro e inclinam-se para a astrologia e todo tipo de coisas. "São o tolo e o covarde que dizem: "É o destino". Mas é o homem forte que se ergue e diz: "Farei o meu destino".

uma velha estória sobre um astrólogo que veio até um rei e disse: "O senhor irá morrer em seis meses". O rei ficou fora de si, completamente aterrorizado e estava quase a morrer de medo. Mas seu ministro era um homem inteligente e disse ao rei que os astrólogos eram tolos. Mas o rei não acreditava nele. Assim, o ministro viu que o único jeito do rei ver que eles eram tolos era convidar de novo o astrólogo. Lá, ele perguntou-lhe se seus cálculos estavam corretos. O astrólogo disse que não havia erro nenhum, mas, para satisfazê-lo, refez todos os cálculos e disse que estavam perfeitamente certos. A face do rei ficou lívida. O ministro então perguntou ao astrólogo: "E quando você pensa que irá morrer?" "Dentro de doze anos", foi a resposta. O ministro rapidamente puxou sua espada, separou a cabeça do astrólogo de seu corpo e disse ao rei: "O senhor este mentiroso? Ele acaba de morrer, neste momento." (VIII, 184-85)



O EVANGELHO DO DESTEMOR


O que faz a diferença entre Deus e o homem, entre o santo e o pecador? Somente a ignorância. Qual é a diferença entre o homem mais elevado e o verme mais inferior que se arrasta sob seus pés? A ignorância. Esta faz toda a diferença. A divindade infinita é imanifesta; ela terá de ser manifestada. Isto é a espiritualidade, a ciência da alma.

A força é o bem, a fraqueza é o pecado. Se existe uma palavra que sai como uma bomba de dentro dos Upanishads, que se despedaça como a cápsula de uma bomba sobre as massas da ignorância, esta palavra é destemor. E a única religião que deveria ser ensinada é a religião do destemor. É o medo que traz o sofrimento, o medo que traz a morte, é o medo que alimenta o mal. E o que causa o medo? A ignorância de nossa própria natureza.

Não desespere. Pois você é o mesmo a despeito do que faça e você não pode mudar sua natureza. A própria natureza não pode destruir a natureza. Sua natureza é pura. Pode estar escondida por milhões de eras, mas, finalmente, vencerá e virá para fora. Por isso a Advaita traz a esperança para cada um e não o desespero. Seu ensinamento não é feito através do medo; ela ensina, não sobre demônios que Estão sempre à espreita para arrebatá-lo se você falsear sua caminhada - ela não tem nada a haver com demônios - mas diz que você tem seu destino em suas próprias mãos. Seu próprio Karma (ação) manufaturou para você este corpo e ninguém mais o fez para você. E toda a responsabilidade pelo bem e o mal está em você. Esta é a grande esperança. O que eu fiz, posso desfazer. (III. 159-61)



A NECESSIDADE DE UM GURU


A alma somente pode receber impulsos de outra alma e de nenhuma outra coisa mais. Podemos estudar em livros durante toda nossa vida, podemos nos tornar muito intelectuais, mas, no fim, verificamos que não desenvolvemos nenhuma espiritualidade absolutamente. Não é verdadeiro que um alto nível de desenvolvimento intelectual seja sempre acompanhado de um desenvolvimento proporcional do lado espiritual do Homem. Ao estudar nos livros, algumas vezes nos iludimos ao pensar que por isso estamos sendo espiritualmente ajudados; mas, se analisarmos o efeito do estudo em livros sobre nós, iremos verificar que, no máximo, é somente nosso intelecto que tira proveito desses estudos e não nosso espírito interior. Esta incapacidade dos livros de acelerarem o crescimento espiritual é a razão pela qual, embora quase todos nós possamos falar brilhantemente sobre assuntos espirituais, quando chega a hora de agir e de viver uma vida verdadeiramente espiritual, nos sentimos tremendamente deficientes. Para acelerar o espírito, o impulso deve vir de outra alma.

A pessoa de cuja alma vem tal impulso é chamada Guru - o instrutor; e a pessoa para cuja alma o impulso é dirigido é denominada Shishya - o estudante. (III. 45)



AS QUALIFICAÇÕES DO ESTUDANTE


Três coisas são necessárias ao estudante que quer ter sucesso:

Primeira: Desista de todas as idéias de prazer neste mundo e no próximo, pense somente em Deus e na Verdade. Estamos aqui para conhecer a verdade e não para o prazer. Deixe-o para os brutos que sabem desfrutá-los como nunca poderíamos. O homem é um ser pensante e deve continuar lutando até vencer a morte, até enxergar a luz. Não deve desgastar-se em conversas inúteis que não produzem frutos. O culto da sociedade e da opinião popular é idolatria. A alma não tem sexo, país, não tem tempo nem lugar.

Segunda: O intenso desejo de conhecer a Verdade e Deus. Seja ávido por eles, precise deles da mesma forma que um homem que se afoga precisa do ar. Queira somente Deus, não aceite nenhuma outra coisa, não deixe que o "parece que" o engane mais. Dê as costas a tudo e busque somente Deus.

Terceira: são os seis treinamentos:

1º) Evitar que a mente vá para fora.

2º) Controlar os sentidos.

3º) Voltar a mente para dentro.

4º) Sofrer tudo sem murmurar.

5º) Focalizar a mente em uma só idéia. Escolha o objeto diante de você e discrimine-o; nunca o deixe. Não ligue para o tempo.

6º) Pense constantemente em sua real natureza. Livre-se das superstições. Não se hipnotize acreditando em sua própria inferioridade. Dia e noite diga a você mesmo quem você realmente é, até que constate, constate realmente, sua identidade com Deus. (VIII. 37)




ESTAMOS APTOS PARA O PARAÍSO?


Algumas pobres vendedoras de peixe, surpreendidas por violenta tempestade, se abrigaram no jardim de um homem rico. Ele as recebeu bondosamente, deu-lhes alimento e deixou-as descansarem numa casa de verão, rodeada de belas flores que enchiam o ar com seus ricos perfumes. As mulheres deitaram-se nesse paraíso de doce fragrância, mas não conseguiram dormir. Faltava-lhes algo para se sentirem felizes e não podiam ser felizes sem isto. Finalmente, uma das mulheres levantou-se e dirigiu-se ao lugar onde tinham deixado suas cestas de peixes, trouxe-as para a casa de verão, e então, de novo felizes com o cheiro costumeiro, elas logo caíram em profundo sono. (VIII. 29)



TRANSFORMAMO-NOS NO QUE PENSAMOS


O pensamento é de toda importância, pois "nos transformamos no que pensamos".

Era uma vez um Sannyasin, um homem santo, que, assentado debaixo de uma árvore, ensinava às pessoas. Bebia leite e comia somente frutas, executava intermináveis "Pranayamas" e considerava-se muito santo.

Na mesma aldeia morava uma mulher de má vida. Todo dia o Sannyasin a censurava, advertindo-a que seu comportamento a levaria ao inferno. A pobre mulher, incapaz de modificar seu método de vida, que era seu único meio de subsistência, ficava ainda muito impressionada pelo terrível futuro pintado pelo Sannyasin. Ela chorava e rezava ao Senhor, suplicando-lhe que a perdoasse porque não podia evitar aquilo.

Com o passar do tempo, o homem santo e a mulher morreram. Os anjos vieram e levaram-na ao céu, enquanto os demônios reclamaram a alma do Sannyasin. "Qual a razão disso?", ele exclamou. "Eu não vivi uma vida muito santa e preguei a santidade para todos? Por que deveria eu ser levado ao inferno, enquanto esta mulher está sendo levada para o céu?" "Porque", responderam os demônios, "enquanto ela era forçada a cometer atos impuros, sua mente estava sempre fixada no Senhor e buscava a libertação, que agora chegou para ela. Mas você, ao contrário, enquanto executava somente atos puros, tinha sua mente sempre fixa na maldade dos outros. Você via somente o pecado e pensava somente no pecado e, assim, agora deve ir para o lugar onde há somente o pecado." (VIII. 19-20)



SABOREIE AS MANGAS


O mundo todo Bíblias, Vedas e o Alcorão; mas todos são somente palavras, sintaxe, etimologia, filologia, os ossos secos da religião. O instrutor que cuida muito de palavras e que permite que sua mente seja arrastada pela força das palavras perde o espírito. É só o conhecimento do espírito das escrituras que forma o verdadeiro instrutor espiritual. A rede de palavras das escrituras é como uma imensa floresta na qual a mente humana muitas vezes se perde, não sabendo como sair.

Ramakrishna costumava contar a estória de alguns homens que entraram numa plantação de mangas e se preocuparam em contar as folhas, os ramos e os galhos, examinando suas cores, comparando seus tamanhos e anotando tudo com muito cuidado e depois iniciaram uma discussão refinada sobre cada um desses tópicos, que eram, sem dúvida, muito interessantes para todos eles. Mas um deles, mais sensível que os demais, não se incomodou com nada disso e começou a comer uma manga. E ele não foi sábio? Assim, deixem esta contagem de folhas, de raminhos e anotações para os outros. Este tipo de serviço tem seu lugar apropriado, mas não aqui, no domínio espiritual. Vocês nunca encontram um homem forte espiritualmente, no meio desses "catadores de folhas". (III. 49-50)



APEGUE-SE A UMA SÓ


Cada seita de toda religião apresenta somente um ideal de sua concepção para a humanidade, mas a eterna religião da Vedanta abre à raça humana um número infinito de portas para ingressar no altar íntimo da divindade e coloca diante da humanidade um quase inexaurível conjunto de ideais, existindo em cada um deles uma manifestação da Unidade Eterna.

Contudo, a planta tenra que cresce tem de ser rodeada por uma proteção até que se torne uma árvore. A planta tenra da espiritualidade irá morrer se for exposta muito cedo à ação de uma constante mudança de idéias e ideais. Muitas pessoas, em nome do que se pode chamar de liberalismo religioso, podem ser vistas alimentando sua curiosidade vadia com uma sucessão contínua de diferentes ideais. Para elas, ouvir coisas novas é uma espécie de doença, um tipo de bebedeira religiosa. Querem escutar coisas novas só para experimentarem uma temporária excitação nervosa, e quando tal influência excitante provocou nelas seu efeito, estão prontas para outra. A religião é para essas pessoas uma espécie de ópio intelectual e acaba aí. A Eka-Nishtha, ou devoção a um único ideal, é absolutamente necessária ao iniciante na prática da devoção religiosa. (III. 63-64)



A TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA


A imaginação não casta é tão má quanto a ação não casta. O desejo controlado leva ao resultado mais elevado. Transforme a energia sexual em energia espiritual, mas não perca a masculinidade, porque isto é lançar fora o poder. Quanto mais forte a força, tanto mais se pode fazer com ela. Somente uma poderosa corrente de água pode executar a mineração hidráulica. (VII. 69)



COMO SE ILUMINAR


As almas iluminadas, as grandes almas que vêm à terra de tempo em tempo, têm o poder de revelar a Visão Eterna para nós. Elas já Estão libertas; não ligam para sua própria salvação - querem ajudar aos outros.

Depende dessas almas livres o crescimento espiritual da humanidade. Elas são como os primeiros lumes que acendem outros lumes. Em verdade, a luz está em todos, mas está escondida em muitos homens. As grandes almas são luzes que brilham desde o começo. Aqueles que entram em contato com elas é como se tivessem suas próprias lâmpadas acesas. Quando isso acontece, a primeira lâmpada nada perde; não obstante, ela transmite sua luz para outras lâmpadas. Um milhão de lâmpadas se acendem; mas a primeira lâmpada continua a brilhar com sua luz que não se acaba. A primeira lâmpada é o Guru e a lâmpada que por ele é acesa é o discípulo. (VIII. 115,113)



O SEGREDO DO CONTROLE


Toda energia dispendida por um motivo egoísta é jogada fora; não provocará energia que retornará até você; mas, se for controlada, resultará em desenvolvimento de energia. Este auto-controle tenderá a produzir uma vontade poderosa, um caráter que produz um Cristo ou um Buda. Os homens tolos não sabem este segredo; contudo, querem governar a humanidade.


O homem ideal é aquele que, no meio do maior silêncio e solidão, sabe encontrar a atividade mais intensa e que, no meio da mais intensa atividade, encontra o silêncio e a solidão do deserto. Ele aprendeu o segredo do controle, ele auto-controlou-se. (I. 33-34)




MENTE: A BIBLIOTECA DO UNIVERSO


O conhecimento é inerente ao homem. Conhecimento algum vem de fora; está todo dentro de nós. Em vez de dizermos que um homem "sabe", em estrita linguagem psicológica, deveríamos dizer "descobre" ou "tira o véu"; o que um homem "aprende" é realmente o que "descobre", ao retirar a tampa de sua própria alma, a qual é uma mina de conhecimento infinito.

Dizemos que Newton descobriu a gravitação universal. Estava ela sentada num cantinho a esperar por ele? Estava na própria mente dele; o tempo chegou e ele a descobriu. Todo o conhecimento que o mundo já recebeu veio da mente; a infinita biblioteca do universo está em sua própria mente. (I. 28)




A GRAÇA E O ESFORÇO PRÓPRIO


Discípulo: Senhor, existe alguma lei para a graça?

Swamiji: Sim e não.

Discípulo: Como é isso?

Swamiji: Aqueles que são sempre puros no corpo, na mente e no falar, aqueles que têm forte devoção, que sabem distinguir o real do irreal, que perseveram na meditação e na contemplação - somente sobre eles descem as graças do Senhor. Sri Ramakrishna dizia, às vezes: "Confiem Nele; sejam como a folha seca à mercê do vento"; e, de novo, falava: "O vento de Sua graça está sempre soprando, o que vocês precisam fazer é enfunar suas velas".

Discípulo: Mas que necessidade tem da graça aquele que pode auto-controlar-se em pensamento, palavra e ação? Ele não seria capaz de desenvolver-se no caminho da espiritualidade por meio de seus próprios méritos?

Swamiji: O Senhor é muito misericordioso com aquele que vê lutar com o coração e a alma para a Realização. Mas, fique ocioso, sem lutar, e você verá que Sua graça jamais chegará.

Discípulo: Sri Girish Chandra Ghosh certa vez me disse que não poderia haver condições na misericórdia de Deus; não haveria nenhuma lei para ela! Se houvesse, não poderíamos mais usar o termo misericórdia. O reino da graça ou da misericórdia deve transcender qualquer lei.

Swamiji: Mas deve haver uma lei mais elevada atuando na esfera mencionada por C.G., a qual desconhecemos. Estas palavras são, em verdade, para o último estágio de desenvolvimento , o qual, somente, está além do tempo, do espaço e da causalidade. Mas, quando chegamos lá, quem será misericordioso e para quem, onde já não existe lei de causalidade? Lá, o adorador e a coisa adorada, o meditador e o objeto da meditação, o conhecedor e a coisa conhecida , todos tornam-se unos - chame isto Graça ou Brahman, como você quiser. É tudo uma uniforme e homogênea entidade! (VI. 481-82 e V. 398-400)



A META E OS CAMINHOS


Toda alma é potencialmente divina.

A meta é manifestar esta Divindade interior ao controlar a natureza, exterior e interior.

Faça isto seja pelo trabalho, ou adoração, ou controle psíquico ou pela filosofia - por um, ou mais, ou todos esses - e se liberte.

Este é o todo da religião. Doutrinas, ou dogmas, rituais ou livros, ou templos, ou formas não são mais que detalhes secundários.

"Sim, filhos da imortalidade, mesmo aqueles que vivem na mais alta esfera, o caminho foi encontrado; há um caminho fora de todas estas trevas e é o de perceber Aquele que está além de todas as trevas; não outro caminho." (I. 124,128)




MAYA E LIBERDADE


Que não sejamos apanhados desta vez. Tantas vezes Maya nos capturou, tantas vezes trocamos nossa liberdade por bonecas de açúcar que derreteram quando a água nelas tocou!

Não se decepcione. Maya é uma grande trapaça. embora. Não deixe que ela o prenda desta vez. Não venda sua herança sem preço para tais ilusões. Levante-se, desperte, não se detenha até que a meta seja alcançada.

Guarde seu dinheiro meramente como uma custódia para aquilo que pertence a Deus. Não tenha apego a ele. Que o nome, a fama e o dinheiro passem; são uma terrível escravidão. Sinta a maravilhosa atmosfera da liberdade. Você é livre, livre, livre! Oh, abençoado sou eu! Eu sou a liberdade! Eu sou o Infinito! Em minha alma não encontro nem começo nem fim. Tudo é o meu Eu. Diga isto, incessantemente.

(Lembranças de Swami Vivekananda, pág. 185,180)



NÃO DURMA MAIS


Em verdade, meu ideal pode ser resumido em poucas palavras, que são: pregar junto à raça humana sua divindade e como manifestá-la em cada movimento da vida.

Uma idéia que vejo claramente como a luz do dia é que o sofrimento é causado pela ignorância e nada mais. Quem dará luz ao mundo? O sacrifício foi a Lei no passado e também o será, ai de mim, pelos tempos que hão de vir. Os melhores e os mais corajosos da terra terão de se sacrificar pelo bem de muitos, pelo bem estar de todos. Budas, aos centos, serão necessários com eterno amor e piedade.

As religiões do mundo tornaram-se arremedos sem vida. O que o mundo quer é caráter. O mundo está necessitado daqueles cuja vida é um amor ardente, sem egoísmo. Este amor fará com que cada palavra ressoe como um raio.

Palavras audaciosas e ações audaciosas é o que queremos. Despertem, despertem, grandes do mundo! O mundo arde em sofrimento. Vocês podem dormir? (VII. 498)




H.R.

30.08.1995

Hari Om, Tat Sat Om

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