O PODER DA RESPIRAÇÃO
Texto de Marietta Till
Certa vez, alguém que vivia em busca da verdade foi ter com um grande mestre a fim de ser levado à experiência dos estados superiores da consciência. Vendo que ele estava mais interessado em obter poder sobre os outros do que no aperfeiçoamento espiritual, o mestre levou-o a um rio e, fazendo-o submergir, segurou-lhe a cabeça sob a água até ele quase se afogar. Só então o deixou livre, perguntando-lhe: "Qual era o seu maior desejo quando estava debaixo da água?" Esgotado e respirando profundamente, ele respondeu:
"Eu queria ar!"
"Então volte", disse o mestre, "quando o seu desejo pelo próprio aperfeiçoamento for tão grande quanto o seu anseio por ar.”
Sem alento não há vida! Podemos viver um bom tempo sem alimento, mas só alguns minutos sem ar. Todos sabemos disso. Poucos, porém, sabem que respirar pode significar muito mais do que deixar que o corpo apreenda o ar de que necessita. Poucos sabem que a respiração representa um importante elo entre o corpo e o espírito, e que exerce uma profunda influência sobre o evento psicostomático. Por isso, o treinamento sistemático da respiração - apresentado neste livro com exemplos os mais variados - pode levar a um sensível bem-estar e a experiências positivas em todos os níveis da nossa existência.
Atualmente, o treinamento da respiração faz parte dos muitos caminhos de salvação oferecidos, podendo a "salvação" ter neles o significado de "cura". No entanto, a maioria das disciplinas que devem levar à salvação normalmente se restringe ao método da experiência corporal e da imaginação, negligenciando o importantíssimo papel que a respiração pode desempenhar nisso.
O caminho hindu da ioga, com seu treinamento meditativo da respiração, faz parte dos mais conhecidos métodos de treinamento. Descobertos há milênios, durante largo período de tempo esses exercícios só foram transmitidos, em sigilo, nas associações secretas e nas escolas iniciáticas.
(Além das escolas de mistérios do Egito e da era clássica, fazem parte delas os primeiros cristãos (os gnósticos), os monges do monte Atos, os franco-maçons e os rosa-cruzes.)
Só agora, na nossa época, estes assomam novamente à luz, depois do longo tempo de subnutrição espiritual e de orientação puramente materialista que o mundo ocidental teve de atravessar. Todos os caminhos e terapias alternativas dos nossos dias visam conduzir o homem de encontro ao seu interior, promover seu autoconhecimento e transformar o seu ego exterior numa forma superior de consciência. Uma contribuição essencial para isso pode resultar da respiração que é a expressão de um processo profundamente interior. Com ela, temos em mãos um instrumento que, conduzido pela nossa vontade, tem a possibilidade de dirigir-se até os processos inconscientes e autônomos do nosso corpo, possibilidade essa da qual somente o homem, entre todos os seres vivos, pode dispor. Assim, por exemplo, a atividade cardíaca, a freqüência do pulso, a digestão e também as emoções reprimidas podem ser influenciadas, profundamente modificadas e até eliminadas pela respiração objetivada. Quem não ouviu falar dos Yogues que se deixam enterrar vivos por três semanas?
As nossas formas espirituais – a concentração, a memória e o discernimento –, tiram proveito da respiração orientada, do mesmo modo com que nossa constituição psíquica, a exercitar-se pacientemente e a libertar-se da escória da emoção negativa.
Podemos experimentar em nós mesmos aquilo de que a respiração é capaz: sentando-nos em posição ereta, numa cadeira, concentramo-nos na respiração e, de olhos fechados, eliminamos todos os outros pensamentos. Agora, prolongamos, pouco a pouco, o tempo de expiração e da inspiração, "observamos a respiração".
Depois de cinco minutos, iremos sentir que uma calma benéfica nos invade, e que as nossas preocupações e os nossos problemas diminuíram.
Outro exemplo: vamos a uma festa popular e entramos na "montanha russa". Cada vez que os carros descem, temos uma sensação de náusea no estômago; somos presas do medo. Mas, se inspirarmos profundamente enquanto descemos, o medo não se apresentará! Esses são apenas dois exemplos da influência da respiração orientada conscientemente.
Os chineses são da opinião que a respiração calma prolonga até mesmo a vida. Seus filósofos afirmam que, quando o homem nasce, é-lhe proporcionado um determinado número de respirações. Caso respire rápida e agitadamente, a sua energia vital logo chegará ao fim. Exemplo disso eles vão buscar no macaco arisco, de vida curta, e na tartaruga centenária com a sua respiração acentuadamente lenta.
Fontes bem orientadas e fidedignas vindas do Oriente nos falam de resultados respiratórios verdadeiramente miraculosos. Sabemos, assim, de monges tibetanos que, no frio intenso, sentam-se nus sobre a neve, tendo de secar certo número de lençóis molhados, antes de serem admitidos em determinados rituais da vida monástica. Eles treinam o Tum-Mo, um exercício respiratório que produz calor. A. Jusseck, um psicoterapeuta conhecido, ( ver A. Jusseck, O encontro do sábio dentro de nós, Goldmann 1986) que atualmente vive nos Estados Unidos, deve a esse exercício a salvação da sua vida, quando estava em Stalingrado. A famosa exploradora do Tibete, Alexandra David-Néel, descreve como outros monges tibetanos que se submeteram, durante anos, a certos exercícios respiratórios são capazes de vencer grandes distâncias como se tivessem "botas de sete léguas", mais voando como pássaros do que andando, tocando a terra só de vez em quando com a ponta dos pés (A. David-Néel, Mystiques et Magiciens du Tibet, Librairie Plon 1972) .
Em tempos mais recentes, sabemos que, na psicoterapia, uma influência especial da respiração pode levar os pacientes a um nível diferente de consciência ("estado Alfa ou Teta"), no qual tornam a surgir experiências que já haviam desaparecido da memória (terapia primária, rebirthing). E o moderno método do superlearning que no estudo de línguas também é apoiado por exercícios respiratórios.
Esses exemplos devem ser suficientes para esclarecer o extraordinário efeito a que pode chegar a função respiratória orientada. A respiração correta promove não apenas a agilidade do corpo, a vigilância do espírito e o equilíbrio da psique, mas também uma capacidade maior do hemisfério direito do cérebro, ao qual compete a fantasia, a vida onírica e as capacidades criativas. Esse hemisfério foi negligenciado nos nossos dias em prol do culto do intelecto. Re-descoberto, ele confere sentido e alegria à nossa existência e à nossa individualidade. Respirar corretamente proporciona um acréscimo de energia ao nosso corpo sutil, também chamado corpo cinestésico, etérico ou corpo prana, porque, pela respiração, aspiramos não apenas oxigênio, mas também o elixir criativo da vida (que os hindus chamam de "prana" e os chineses de "ki"), que mantém vivo o nosso corpo psíquico, fortalece a membrana celular e reforça o sistema imunológico.
A respiração correta pode nos tirar da polaridade - que sofremos desde a "expulsão do paraíso" - e nos fazer voltar à unidade, na qual a criação já não se apresenta mais como algo separado de nós, mas como solidariedade do destino em relação a tudo o que vive. Assim, o mergulho no interior de nós mesmos, mediante a respiração, não nos separa de modo algum dos nossos companheiros - coisa que muitos receiam; ao contrário, melhora nosso relacionamento social, a simpatia e o amor humano. O ar é o elemento de comunicação com o tu. Tudo tem de respirar, as plantas, os animais, as árvores e também a colmeia e até uma orquestra. O próprio universo, uma vez por dia, inspira - da meia-noite ao meio-dia - e novamente expira - do meio-dia à meia-noite. Por isso, o melhor momento para os nossos exercícios é a primeira metade do dia. Mas, o alento de Brahma, o grande criador dos mundos, abrange, segundo o pensamento hindu, eras siderais, cujo ciclo atual nos trouxe a era da escura deusa Kali, dos sacrifícios humanos, das guerras e guerrilhas sangrentas, das agressões. Uma razão a mais para procurarmos auxílios libertadores que nos conduzam à luz!
Respirar corretamente significa levar a consciência a todas as partes do corpo. No entanto, este é o elemento fundamental da transformação integradora do nosso ser. Se unirmos o alento à força da nossa imaginação - como o faz um químico hábil com seus ingredientes - experimentaremos um surpreendente acréscimo das nossas possibilidades e, no fim de tudo, da totalidade da nossa força vital. Um exemplo: de olhos fechados, imaginemos nosso joelho direito, com a rótula, os tendões e os ligamentos. Agora, "respiremos vigorosamente para dentro do joelho", o que vivifica ativamente a imaginação. Podemos também pôr a mão direita - a doadora - sobre o joelho, imaginando que o fluxo energético passa, com a respiração, através do braço e da palma da mão, diretamente para o joelho. Dentro em pouco, a sensação de calor com a sua força de cura surgirá nesse local. Como um servo fiel, a respiração se submete à nossa vontade.
Falando de "vontade", não devemos cometer o erro de evocar ambições competitivas nesses exercícios altamente diferenciados. Nesses exercícios, não interessa quem respira melhor, quem absorve mais ar ou quem suspende a respiração por mais tempo. Os efeitos devem se instalar bem devagar, como por si mesmos, como que "furtivamente". Não sendo assim, logo surgirão tensões e bloqueios, como podemos observar diariamente nos rostos crispados dos Yogues. Feitos com boa vontade e assiduamente, os exercícios respiratórios representam uma atividade relaxante, natural e alegre. Ranger os dentes durante sua execução é despropositado.
No caso, trata-se de uma atitude que nós, ocidentais, achamos muito difícil compreender: o Wu-Wei oriental, a não-ação na ação. Isso quer dizer: sem agarrar-se a um objetivo, sem ambição e sem o desejo egoísta de lucro (coisa que existe também no terreno espiritual) desenvolver uma atividade criativa, deixar fluir as energias e, no nosso caso, "abrir-se ao alento". Em relação a isso, os hindus têm uma bela metáfora. Dizem eles: "Busca a tua estrada de auto-realização no meio, entre o caminho dos gatos e o caminho dos macacos!- É que o gatinho, todo indolente, deixa que a mãe o carregue, segurando-o na boca, ao contrário do macaquinho, que se agarra com toda a força à sua progenitora. Respirar é prazer, mas não no sentido hedonista de gozar a vida. Ao respirar, "sorrimos" para os pulmões. Respirar é um ato inspirado. Inspirar significa soprar para dentro; assim, o alento é uma dádiva divina. Porque, tal como está na Bíblia, Deus insuflou o ruach ou pneuma no torrão de terra, Adão. Ambas as palavras, de origem hebraica e grega, significam, além de "alento", também "espírito". Mais adiante, reza a Bíblia: "...e assim o homem tornou-se uma alma viva. Isso quer dizer que, no seu sentido mais profundo, o alento é um instrumento divino e um guia, sempre presente, que leva à grande libertação.
Do livro de Marietta Till, A FORÇA CURATIVA DA RESPIRAÇÃO
ja li esse livro, muito inspirador.. só não achei nada daquela parte dos yogues que pulam vários kilomentros sem encostar no chão.. kkkk
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