Graças ao meu paramguru meu livro “A Ciência Sagrada” esgotou rapidamente. “Na manhã seguinte ao término de meus esforços literários”, continuou o mestre, “fui ao ghat Raí banhar-me no Ganges. O ghat estava deserto; detive-me silencioso um instante gozando uma paz radiante. Depois de imersão nas águas cintilantes, voltei para casa. Naquele silêncio, o único ruído que ouvia era o da toalha ensopada das águas do Ganges farfalhando a cada passo meu. Como passasse além das grandes banyans, próximas da margem, forte impulso forçou-me a olhar para trás. Ali, à sombra de uma banyan, cercado por alguns discípulos, estava o grande Bábají!
“- 'Saudações Swamijí!' A bela voz do mestre fez-se ouvir para assegurar-me que eu não estava sonhando. 'Vejo que você teve pleno sucesso com seu livro. Como havia prometido, aqui estou para agradecer-lhe'.
Com o coração batendo descompassadamente, prostreí-me completamente aos seus pés. '- Paramgurují', disse eu súplice, 'não poderíeis vós e vossos chelas honrar minha miserável casa com vossa presença?'
(A palavra paramguru refere-se ao guru de um guru. Assim, Bábají, o guru de Láirhi Mahásaya, é o paramguru de Sri Yuktéswar. Mahavatar Bábají é o supremo guru na linha indiana de Mestres que assumem a responsabilidade do bem-estar espiritual de todos os membros SRF-YSS que fielmente pratiquem Kryia Yoga.)
“O supremo guru declinou amavelmente: '- Não filho', disse ele. '- Somos gente que aprecia o abrigo das árvores. Este lugar é bastante confortável.'
“- Peço-lhe, então, demore-se mais um pouco, mestre', supliquei-lhe contemplando-o. 'Volto num instante com deliciosas iguarias'.
“Quando após alguns minutos retornei com um prato de manjares, a nobre banyan não mais abrigava o grupo celestial. Procurei-os pelo ghat, mas em meu coração senti que o pequeno grupo já estava então escapando em vôos etéreos.
“Fiquei profundamente magoado. 'Não obstante nosso novo encontro, eu não poderia estar incomodando ao falar com Bábají', disse a mim mesmo. 'Ele foi grosseiro ao abandonar-me tão repentinamente.' Isto eram só arrufos de amor, naturalmente, e nada mais. Poucos meses depois, visitei Láhiri Mahásaya em Benares. Ao entrar na sala de visitas, meu guru. sorriu -me em saudação.
“- Benvindo Yuktéswar”, disse ele, “Você pode ver o virtuoso Bábají à soleira de meu quarto?”
“Não, por quê?” respondi surpreso.
'Venha cá.”Láhiri Mahásava tocou-me gentilmente a testa; desta vez contemplei junto à porta a figura de Bábají florescente como um perfeito lótus.
Lembrei-me de minha mágoa e não o saudei. Láhiri Mahásaya olhou-me com espanto.
“O divino guru estava me contemplando com olhos perscrutadores. '- Você ficou aborrecido comigo?'
“- Senhor, por que não deveria ficar? “respondi. Do ar vieste com vosso grupo, e no rarefeito ar vos desvanecestes.
“- 'Falei-lhe que ia vê-lo, mas eu não disse que ficaria mais tempo'. Bábají riu afavelmente. 'Você estava muito excitado. Asseguro -lhe que eu já estava quase extinto no éter pelo pé-de-vento de seu ressentimento.'
“Fiquei instantaneamente satisfeito por esta explanação pouco lisonjeira. Ajoelhei-me aos seus pés; o supremo guru bateu-me afavelmente no ombro.
“- 'Filho, você deve meditar mais', disse ele. 'Sua contemplação não é perfeita. Você nem pôde ver-me sumindo através da luz do sol.' Com estas palavras em voz semelhante ao som de uma flauta celestial Bábají desapareceu dentro de um esplendor.
“Esta fora uma de minhas últimas visitas a Benares para ver meu guru”, concluiu Sri Yuktéswar. “Como Bábají predissera na Kumbha Mela, a encarnação de chefe de família de Láhiri Mahásaya estava se encaminhando para o fim,
Durante o verão de 1895, desenvolveu-se um pequeno tumor nas costas de seu robusto corpo. Quiseram lancetá-lo, ele protestou; saldava em sua própria carne o mau carma de alguns de seus discípulos. Afinal, dois ou três chelas tornaram-se muito insistentes; o mestre respondeu, enigmaticamente:
“- O corpo tem de encontrar uma causa para a morte; concordo, façam o que bem entenderem.
“Pouco tempo depois, o incomparável guru abandonou seu corpo em Benares. Não mais necessito procurá -lo em sua pequena sala de recepção; todos os dias de minha vida são abençoados por ele, meu guia onipresente. (26 de setembro de 1895 foi a data em que Láhiri Mahásaya abandonou o corpo. Alguns dias depois ele teria completado 67 anos.)
“ Anos mais tarde, dos lábios de Swâmi Keshabananda, um discípulo adiantado, ouvi muitos detalhes admiráveis sobre a partida de Láhiri Mabásaya.
“- Poucos dias antes de meu guru abandonar o corpo - contou-me Keshabananda - ele se materializou diante de mim, quando me encontrava sentado em meu eremitério de Hardwar.
“- Venha imediatamente a Benares. - Com estas palavras, Láhiri Mahásaya desapareceu.
“Tomei o trem imediatamente para Benares. Em casa de meu guru, encontrei muitos discípulos reunidos. Durante horas, naquele dia, o mestre explicou o Gíta; depois, com simplicidade, dirigiu -se a nós:
“- Volto para o meu lar.
“Nossos soluções de angústia prorromperam, irresistíveis.
“- Consolem-se; eu ressuscitarei. - Após esta afirmação, Láhiri Mahásaya levantou-se de seu assento, três vezes girou seu corpo em círculo, sentou-se em posição de lótus encarando o norte e gloriosamente entrou em mahásamádhi.
“O belo corpo de Láhiri Mahásaya, tão caro a seus devotos, foi cremado segundo os ritos solenes reservados aos chefes de família, em Manikarnika Chat, junto ao Ganges sagrado - continuou Kesbabananda. - No dia seguinte, às dez horas da manhã, enquanto ainda me encontrava em Benares, meu quarto inundou-se de uma grande luz. À minha frente apareceu, em carne e osso, de pé, Láhiri Mahásaya. Seu corpo parecia-se exatamente ao interior, embora mais jovem e mais radiante. Meu divino guru me disse:
“- Keshabananda, sou eu mesmo. Com os átomos que se desintegraram de meu corpo cremado, remodelei minha forma, ressuscitei. Minha tarefa como chefe de família no mundo terminou; mas não deixo a Terra inteiramente.
Doravante, passarei uma temporada com Bábají no Himalaia e outra com Bábají no cosmo.
“Abençoando-me com algumas palavras, o transcendente mestre desapareceu. Uma inspiração maravilhosa saturou-me o coração; fui elevado em Espírito, à semelhança dos discípulos de Cristo e de Kabir, que contemplaram seus gurus redivivos após a morte física.
“Quando regressei a meu eremitério isolado, em Hardwar - prosseguiu Kesbabananda -levei comigo uma parcela das cinzas sagradas de meu guru. Sabia que ele escapara à prisão do espaço e do tempo; o pássaro da onipresença estava livre. Entretanto, era um consolo para meu coração guardar suas sagradas cinzas em meu santuário.”
Outro discípulo abençoado com a visão do ressuscitado guru foi o santo Panchanon Bhattachárya. Visitei-o em sua morada em Calcutá e ouvi com deleite a história de sua convivência de muitos anos com o mestre. Em remate, narrou-me o acontecimento mais maravilhoso de sua vida.
-Aqui em Calcutá -disse Pancharion -às dez horas da manhã seguinte à sua cremação, Láhiri Mahásaya apareceu diante de mim, gloriosamente vivo.
Swâmi Pranabananda, “o santo com dois corpos”, também me fez confidências detalhadas de sua sublime experiência. Durante sua visita à minha escola de Ranchi, Pranabananda contou-me:
-Alguns dias antes de Lábiri Mahásaya abandonar o corpo, recebi dele uma carta solicitando minha ida imediata a Benares. Fui, porém, inevitavelmente retardado e não pude partir no mesmo instante, Exatamente quando me preparava para partir para Benares, cerca de dez horas da manhã, senti-me dominado por súbita alegria ao ver em meu quarto a figura resplandecente de meu guru.
“- Por que se apressa a ir em Benares? - disse Láhiri Mahásaya, sorrindo. - Não me encontrará mais ali.
“Quando compreendi o significado de suas palavras, chorei tristemente, acreditando que o contemplava apenas numa visão.
“O mestre aproximou-se de mim, confortadoramente: - Toque à minha carne - disse ele -estou vivo, como sempre. Não se lamente; não estou consigo por toda a eternidade?”
Dos lábios destes três, grandes discípulos emergiu uma história de maravilhosa verdade: um dia após a entrega às chamas do corpo de Lábiri Mabásaya, o mestre ressurrecto, em corpo real mas transfigurado, apareceu diante de três discípulos, em cidades diferentes, à mesma hora, dez da manhã.
“E quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, a este corpo mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: - Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó sepulcro, a tua vitória?
I Corínflos, 15:54-55 “Por que se julgaria uma coisa incrível entre vós, que Deus ressuscitasse os mortos?” (At~s, 26:8).
Fonte:
"AUTOBIOGRAFIA DE UM IOGUE CONTEMPORÂNEO", Paramahansa Yogananda
Ótimo texto. Alguém tem mais algumas "pistas" acerca da reencarnação ou materialização?
ResponderExcluirAdoraria compreender como os grandes mestres vencem a morte.
Que Deus abençoe à todos!!!