Swami Dayananda Saraswati
(Palestra de Swami Dayananda proferida na Califórnia, USA, para a revista Mananam.)
A palavra dharma é derivada da raiz sânscrita dhr, que tem certo número de significados, sendo os principais "existir, viver, continuar" e "segurar, suportar, sustentar". A própria palavra dharma acabou sendo usada numa larga variedade de sentidos, a maioria relacionados com as traduções mais comuns: retidão, virtude, dever.
Num sentido mais amplo, dharma refere-se à natureza ou caráter do que quer que seja. Nessa ordem de idéias, é possível falar do dharma de um objeto inanimado, ou de plantas e animais. O dharma, ou natureza, do fogo é proporcionar calor e luz. O dharma de uma vaca inclui dar leite e pastar. O dharma da vaca não inclui ficar à espreita e matar presas.
A natureza do ser humano, como ensina o Vedanta, é a plenitude absoluta. E é em relação ao indivíduo que não reconheceu sua própria plenitude que dharma pode ter diversas mudanças de significado.
Todos os objetivos que alguém procura na vida cabem em quatro categorias: segurança, prazer, dharma e liberação. Os desejos de riqueza e segurança e de prazeres sensoriais são compartilhados por todos os seres vivos. Quando se trata de animais, a busca desses bens é governada pelo instinto. A vaca masca a grama por instinto, não por escolha. Toda ação envolve escolha de finalidades e meios para atingir um dado objetivo. Cada um pode agir em harmonia com sua natureza, em contato com outros indivíduos ou dentro da sociedade, ou pode não fazê-lo. Assim, para o ser humano, são valores que governam as ações ou a busca de segurança e prazer. Uma vez que valores são sujeitos a variações e mudanças, cada um deve ter um conjunto de linhas de conduta que governe seus valores.
Esse conjunto - ética - é chamado dharma. Dharma inclui tanto uma ética do bom senso, escolher minhas ações de maneira a não agredir os outros, como uma ética religiosa, que diz não me ser possível escapar dos resultados das minhas ações. Ações corretas ou incorretas levam a resultados conseqüentes, seja nesta vida ou depois dela.
O quarto objetivo desejado - o que dá fim a todos os demais desejos e objetivos - é moksha, a liberação. Liberação e reconhecimento da própria natureza como plenitude e totalidade. A pessoa liberada, como um ser pleno, não tem mais desejos e sua vida só pode estar em harmonia com tudo que a cerca. É um exemplo vivo de dharma a ser seguido por todos. Até que se alcance essa plenitude, as leis do dharma se mantêm como linhas de ação que norteiam a vida. Vivendo uma vida reta e virtuosa, a pessoa prepara a mente para receber o ensinamento que lhe trará moksha.
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