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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Moksha - Libertação


Moksha é liberação, ou a liberdade daquilo que possa ser considerado como uma limitação.

A limitação aqui é unicamente um sentimento, uma noção.

Certa ocasião, um mentiroso disse a um homem, cujo filho estava distante, que seu filho tinha sido morto, ainda que ele, na verdade, estivesse vivo. O pai acreditou nele e ficou muito triste. Se o filho realmente tivesse morrido, e o pai não soubesse disso, ele não estaria triste. Por que? Porque a limitação está apenas nos pensamentos, na mente; assim como você pensa, assim você é.

A situação do homem é semelhante àquelas vacas na história das cordas perdidas. Um discípulo, cujo serviço era cuidar das vacas, levou-as para o ashram ao anoitecer, após alimentá-las no pasto durante todo o dia. Mas ele viu que as cordas usadas para amarrar as vacas haviam sido roubadas. Ele foi até o guru, informou-o do furto e perguntou-lhe o que poderia fazer para prender as vacas. O guru lhe disse para fazer tudo aquilo que ele normalmente fazia, como se as vacas estivessem sendo amarradas e então, simplesmente deixá-las passar a noite. O estudante, duvidando da sabedoria do conselho, relutantemente fez como havia sido orientado. Logo que amanheceu ele foi até o curral, esperando que todas as vacas tivessem saído durante a noite. Só que, para seu grande espanto, elas estavam todas ali. Mas quando ele tentou conduzi-las para fora do curral, nenhuma se moveu do seu lugar. Novamente ele foi contar o acontecido ao guru. O guru perguntou-lhe se ele havia desamarrado as vacas, ao que o estudante respondeu que, na verdade, nem sequer as tinha amarrado. O guru então perguntou-lhe se ele havia seguido as suas instruções, 'como se' tivesse amarrado as vacas e ele disse que sim. 'Bem, então neste caso você precisa ir lá e agir como se as tivesse desamarrado'. E assim, ao comando do guru, ele novamente foi até o curral e lá fingiu que desamarrava cada uma das vacas. E assim, conforme ele as fingia desamarrar, cada vaca, alegre e graciosamente, saía pelos pastos. Como as vacas, que tiveram a noção de que haviam sido amarradas pelas cordas, assim é o homem que tem a noção de que é limitado; mas esta limitação e a consequente liberação são apenas aparentes, um estado mental.

Isto é evidente também na nossa experiência de sono, aonde a mente que limita está ausente, uma vez que, naquele estado , ninguém luta por libertar-se das próprias limitações. Todas as noções foram obscurecidas, apagadas pela experiência daquele homogéneo oceano de ignorância.

A limitação não é algo físico; se assim fosse, a reorganização do meio ambiente iria resolver o problema. Mas nós percebemos que, qualquer que sejam as variantes propostas sobre as condições ambientais, o homem retem seu senso de limitação. Quatro paredes não fazem uma prisão para aquele cuja mente é livre; só poderá ser uma prisão para quem a vê assim.

Libertar-se de tais concepções mentais só é possível através de um conhecimento da verdade que é livre de qualquer erro.

(...)

Sendo assim, o desejo pela libertação das limitações não envolve a aquisição de qualquer forma de liberdade objectiva, mas é antes o desejo de ser um 'ser livre'. Portanto, sou eu mesmo que eu desejo, eu que já devo ser este 'ser que é livre'. Eu desejo 'ser livre' já tendo este 'ser livre'. Consequentemente, eu sou o 'ser que é livre', já conhecido e que jamais foi limitado. Porque então a liberdade é tão diligentemente buscada?

Eis o ponto crucial da condição humana. É porque você já sabe, e ainda assim não sabe, que você já é aquilo que busca.

Esta é a condição que deve necessariamente prevalecer para que alguém se torne um 'buscador' da liberação. Isto porque se ela fosse conhecida não precisaria ser buscada. Se ela fosse desconhecida, também não poderia ser buscada. Esta condição é análoga ao problema de ver uma serpente aonde o que realmente existe é somente uma corda: Se a corda é vista, não há problema. Se a corda não é vista, não há problema. Se a corda é vista e ainda assim não vista, então existe um problema-serpente.

'Eu' é experienciado no sono como um 'ser livre', enquanto no estado acordado, ele é imaginado como estando preso ao corpo, com todas as limitações que lhe são próprias. A cada noite, provando do infinito durante o sono, é impossível contentar-se com mesquinhas gratificações. Todas as outras experiências se revelam frustrantes diante daquela imersão nocturna no ilimitado, e todas as actividades mundanas são tentativas equivocadas para retornar àquele 'ser livre' que permanece.

Uma noção rege todo o campo de actividade do 'ser livre'. Como remover aquela noção e 'adquirir' a liberação da limitação? Como adquirir moksha?

Moksha é a aquisição que se revela inteiramente distinta de todas as demais. Todas as outras formas de aquisição são produto da acção, tendo sido criadas dentro do tempo e portanto também perdidas no tempo. Moksha é o único ganho que é permanente, e por ser de natureza permanente deve necessariamente ser não produzido. Sendo não produzido, pode somente ser ou impossível ou já alcançado mas desconhecido. O homem não tem escolha quanto a esta busca pelo preenchimento da sua necessidade natural por liberdade, que deve necessariamente culminar na própria liberdade, já que aquilo que é natural tem sempre um propósito; alcançá-la não pode ser algo impossível. Portanto, Moksha só pode ser aquilo que é já adquirido, ainda que ignorado. Moksha é a aquisição do não criado, que já é adquirido e, consequentemente, a única maneira de se obter Moksha é através do conhecimento da Verdade de que nós já somos aquele 'ser livre'.




Compilado das aulas de Pujya, de Svami Dayananda Sarasvati, por Swami Hamsananda

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